terça-feira, 6 de abril de 2010

O Livro de Eli


Western Pós-apocalíptico[1]

Num futuro devastado pela guerra, tendo em mãos o livro que representará o restabelecimento da sociedade e, quiçá, da humanidade, Eli (Denzel Washington) trava uma jornada particular de redenção na qual terá de enfrentar diversos obstáculos criados por mercenários também interessados no livro.

Com referências que vão de Mad Max (George Miller, 1979) a Fahrenheit 451 (François Truffaut, 1966), O Livro de Eli (The Book of Eli, 2010) aposta como fator diferencial em sua fotografia, marcada por tons ora sépia ora acinzentados que formam, em conseqüência, uma paleta de cores por vezes próxima ao preto e branco[2].

E é com base nesse universo quase monocromático que os irmãos Hugues, diretores do filme, imprimem propositalmente um clima de western à trama para, assim, melhor retratar a regressão do comportamento humano em tempos de pós-guerra, pois, no caso da história em comento, o canibalismo se tornou prática rotineira, enquanto o individualismo se tornou lei[3].

Neste contexto, é de se lamentar que a produção não ouse se levar mais a sério – como fez com êxito, por exemplo, Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón (Children of Men, 2006) – preferindo, assim, firmar-se como uma segura e rentável diversão escapista que apela a fórmulas e clichês do gênero como:

· Eli é desnecessariamente pintado como um indestrutível ronin[4];

· o roteiro não deixa de lançar mão da velha tática do parceiro-indesejado-de-viagem, o que, num filme de duplos protagonistas, se mostra como artimanha dos estúdios para revelar novos atores que, por sua vez, aproveitam as escadas erguidas por seus consagrados parceiros de cena[5].

Embora tais clichês não comprometam em sua plenitude o resultado final da produção, - eis que não há como negar que Denzel Washington e Mila Kunis interpretam com facilidade seus papéis – fica, ainda, a sensação de que o filme poderia ir além do espetáculo visual ao qual se propõe, de forma que questões filosóficas e/ou religiosas, se abordadas com inteligência pelo roteiro, poderiam ser facilmente digeridas pelo grande público.

Quem sabe numa próxima oportunidade com Filhos da Esperança 2 essa frustração seja vencida...

Dario Façanha Neto

COTAÇÃO: ¤¤¤



[1] Texto originalmente publicado em http://setimacritica.blogspot.com/

[2] Num inegável avanço à técnica semelhante utilizada por Steven Spielberg em O Resgate do Soldado Ryan.

[3] Tanto que, em determinado momento do filme, para não ter sua viagem prejudicada, o anti-herói Eli se permite assistir passivamente um estupro seguido de assassinato.

[4] Na condição de samurais sem um senhor, os ronin tornaram-se temidos por sua grande habilidade em combate e por sua independência ao código samurai.

[5] No caso em tela têm-se os atores Denzel Washington e Mila Kunis, todavia, como mencionado, diversas outras obras também já aderiram a esse mote, podendo ser citado dentre os mais recentes Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007), cuja dupla central fora formada por Will Smith e Alice Braga.


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