sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Melhores do Ano em 2010

   Com os cursos de Crítica Cinematográfica ministrados por Marco Antônio Moreira na Caiana Filmes, o Neocríticas surgiu. Idealizado pelos próprios alunos. E hoje elege os melhores filmes do ano de 2010, considerando os filmes que foram exibidos nos cinemas da cidade, seja no circuito alternativo ou comercial, sessões regulares ou festivais, sem considerar as exibições dos cine-clubes. Até o presente momento a Caiana Filmes teve três turmas do Curso de Crítica Cinematográfica e dia 11 de Janeiro de 2011, tem início uma nova turma. Todos são muito bem vindos ao Neocríticas, que foi um espaço criado com o intuito de incentivar e reunir opiniões, visões distintas ou semelhantes, argumentações e discussões sobre o tema que nos uniu nesse espaço, o cinema, que tanto amamos. Queremos agradecer ao João Inácio e ao Marco Antônio Moreira, que nos permitiram esse encontro em um espaço único na cidade de Belém, quem faz parte da família Caiana, sabe da sua importâncias em nossas vidas esse ano, vida próspera a Caiana Filmes, ao Neocríticas e a essa amizade que se criou ao longo dos cursos.



  

Melhores Filmes - 2010

1° "O Segredo dos Seus Olhos" de Juan José Campanella (47 pontos)
2° "A Origem" de Christopher Nolan (36 pontos)
3° "A Rede Social" de David Fincher (34 pontos)
"Os Famosos e os Duendes da Morte" de Esmir Filho (27 pontos)  
5° "Toy Store 3" de Lee Unkrich (25 pontos)
6° "Tudo Pode Dar Certo" de Woody Allen     
    "Ao Lado da Pianista" de Denis Dercourt (24 pontos)             
8° "A Religiosa Portuguesa" de Eugène Green (20 pontos)
9° "Tropa de Elite 2" de José Padilha (15 pontos) 
10° "O Fantástico Senhor Raposo" de Wes Anderson (14 pontos)      

Melhores Filmes do Ano de 2010 - Listas Individuais

Carolina Klautau:
1° O Segredo dos Seus Olhos
2° Abraços Partidos
3° Toy Story 3
4° Tudo Pode Dar Certo
5° A Rede Social
6° O Solista
7° À Prova de Morte
8° Tropa de Elite 2
9° Invictus
10° A Ilha do Medo

Dario Façanha:
1° O Segredo dos Seus Olhos
2° Os Famosos e os Duendes da Morte
3° A Rede Social
4° Ao Lado da Pianista
5° Tropa de Elite 2
6° O Fantástico Senhor Raposo
7° Abutres
8° Tudo Pode Dar Certo
9° A Origem
10° A Jovem Rainha Vitória

Elias Neves:
1° A Religiosa Portuguesa
2° Os Famosos e os Duentes da Morte
3° O Segredo dos Seus Olhos
4° Tudo Pode Dar Certo
5° Luzes na Escuridão
6° O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus
7° A Jovem Rainha Vitória
8° As Testemunhas
9° A Rede Social
10° A Origem

Marcelo Lobo:
1° A Origem
2° A Rede Social
3° Toy Story 3
4° A Ilha do Medo
5° Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1
6° Homem de Ferro 2
7° Karatê Kid
8° Um Parto de Viagem
9° Gente Grande
10° O Livro de Eli

Pryscila Afonso:
1° O Segredo de Seus Olhos
2° Os Famosos e os Duendes da Morte
3° A Origem
4° Tudo Pode Dar Certo
5° A Rede Social
6° Ao Lado da Pianista
7° A Ilha do Medo
8° Tropa de Elite 2
9° A Cabeça de Mamãe
10° À Moda da Casa

Salma Nogueira:
1° A Religiosa Portuguesa
2° O Segredo dos Seus Olhos
3° Lixo Extraordinário
4° 7 Anos
5° Ao Lado da Pianista
6° A Origem
7° O Fantástico Senhor Raposo
8° A Rede Social
9° Tropa de Elite 2
10° A Teta Assustada

Vince Souza:
1° A Origem
2° Toy Story 3
3° Homem de Ferro 2
4° Educação
5° Ao Lado da Pianista
6° O Fantástico Senhor Raposo
7° Como Treinar Seus Dragão
8° Wall Street 2 - O Dinheiro Nunca Dorme
9° O Fim da Escuridão
10° Tropa de Elite 2

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Grande Ditador

O Grande Artista

Charlie Chaplin, ainda nos anos 20, além de ver suas interpretações serem rotineiramente comparadas com as do comediante francês Max Linder – artista por quem o primeiro assumia, sem qualquer pudor, ter sido influenciado – enfrentava a boçalidade da crítica, leia-se elite, vigente, eis que para tal grupo a comédia visual não passava de entretenimento barato que jamais poderia ser encarada como expressão artística.
Determinado a mostrar o valor de sua obra, Chaplin – inspirado pelo relacionamento nutrido com Peggy Hopkins Joyce – roteirizou e dirigiu o drama Casamento ou Luxo (A Woman of Paris- EUA, 1923), filme no qual sua participação como ator não passara de uma rápida aparição.
Apesar de não haver conquistado nas bilheterias o mesmo êxito obtido pelos trabalhos cômicos anteriores, o longa-metragem recebeu, em conformidade com o que Chaplin almejava, comentários elogiosos e, principalmente, desprovidos de preconceito, comprovando, assim, a versatilidade do diretor, qualidade essa que ao longo do tempo fora ratificada a cada novo trabalho, através de geniais fusões de comédia, drama e, sobretudo, crítica social.
Não obstante a importância da produção supracitada, por certo o trabalho responsável por elevar à enésima potência as qualidades e importância artísticas de Chaplin fora O Grande Ditador (EUA, 1940), obra na qual o humor servira de instrumento de reflexão e de repúdio a política internacional, bem como a II Guerra Mundial e ao anti-semitismo.
Como sabido, no filme Chaplin interpreta dois personagens: Adenoyd Hynkel, o fuhrer da Tomânia, além de um barbeiro judeu deveras parecido com aquele primeiro. Neste sentido, os letreiros iniciais preparam o espectador para o que virá pela frente ao avisar que as semelhanças entre o ditador (nazista) e o judeu não passariam de mera coincidência, opção essa que, tal qual o conjunto do filme, visa, acima de tudo, tripudiar e ridicularizar Adolf Hitler que, por certo, não deve ter ficado nada feliz, enquanto membro de uma raça ariana, em ser comparado a um judeu.
Para Chaplin, contudo, a igualdade entre os homens não deveria ser lembrada apenas para aplacar as divergências entre nazistas e judeus, mas sim ser defendida como um direito e uma garantia fundamental a todos os povos ou como fala o barbeiro judeu no emocionante discurso que encerra o filme: “Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades”.
Ao passo que o italiano Roberto Benigni teve seu A Vida é Bela (La Vita è Bella, Itália, 1997) criticado, com justiça, por romantizar ao extremo os infortúnios do holocausto, Chaplin jamais pudera ser acusado do mesmo mal, eis que as agruras da guerra não são por ele amenizadas em momento algum, sendo o riso, como já dito, utilizado para tripudiar o nazifascismo e seus líderes Adolf Hitler/Adenoid Hynkel e Benito Mussolini que na versão cinematográfica do cineasta é batizado como Benzini Napaloni.
Dentro deste contexto, a tradicional piada com comida é utilizada de modo metafórico numa guerra de espaguete entre os ditadores que demonstrara não só a empáfia de ambos como também a sensação de superioridade de um sobre o outro - o que, inclusive, enfraqueceria a aliança nazifascista, afinal, o mundo não poderia ter dois, mas sim um único dono.
Satirizando desde a forma de oratória de Hitler até as fracassadas tentativas de assinatura do pacto de não invasão da União Soviética, Charlie Chaplin – graças ao fato de naquele período já haver alcançado a independência financeira necessária a realização de seus projetos, possuindo, neste passo, seu próprio estúdio bem como sua própria distribuidora, a United Artists¹ - pôde realizar um trabalho deveras ousado – ainda mais quando se leva em conta que à época os Estados Unidos tentavam manter uma posição de neutralidade perante a II Guerra – que, por óbvio, levantou contra ele especulações por parte do governo alemão acerca de uma suposta ascendência judaica do artista², gerando, assim, uma controvérsia que, tamanha sua inutilidade, jamais fora contestada ou negada por Chaplin.
Através de O Grande Ditador, o cineasta se firmou não só como artista mas também como homem politizado, demonstrando, em primeiro lugar, o quão errôneas eram as afirmações daqueles que na década de 20 o rotulavam como um palhaço vulgar e, em segundo lugar, o fato de não ser um diretor acomodado com o sucesso, mas sim engajado em métodos de produção voltados a, através do humor, levar adiante as mensagens libertárias tão necessárias para o momento.
A dura resistência de Chaplin contra os ideais nazistas não significava, entretanto, uma irrestrita defesa do mesmo para com o método de produção capitalista característico dos países aliados, pois para o eterno Carlitos o que importava mesmo não era a filiação política e sim o respeito a vida humana.
Por isso, já em 1947, isto é, nos primeiros anos da Guerra Fria, Charlie Chaplin lançou o filme de humor negro Monsieur Verdoux cuja polêmica gerada fora imensa por conta de um protagonista assassino em série que ao ser julgado alega em defesa que, apesar do homicídio enquanto ato praticado de forma isolada ser uma conduta ilícita, os assassinatos justificados pela guerra eram enaltecidos pelo Estado e pelo povo, ou conforme as palavras do personagem: “Um assassinato transforma uma pessoa em vilã, milhões a transformam em herói. Os números santificam”.
Por óbvio tal posicionamento serviu para taxar Chaplin, em definitivo, como esquerdista, motivo pelo qual o artista passou a ser fortemente perseguido pela caça às bruxas da era macarthista, sendo seu nome, inclusive, mencionado na chamada Lista Negra de Hollywood, o que culminaria na revogação de seu visto de permanência nos Estados Unidos.
Mas esse já é um outro capítulo da vida do grande Charles Chaplin...

1.     Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, Chaplin co-fundou a United Artists em 1919.
2.     Não há documentos comprobatórios da ascendência judaica de Chaplin. Embora tenha sido batizado na Igreja da Inglaterra, Chaplin assumiu-se como agnóstico durante a maior parte da vida (Fonte: The Religious Affiliation of Charlie Chaplin. Adherents.com - 2005).
3.     “Chaplin morreu dormindo aos 88 anos de idade em conseqüência de um derrame cerebral, no Dia de Natal de 1977 na Suíça (...). No dia 01.03.1978 seu corpo foi roubado da sepultura por um pequeno grupo de mecânicos suíços, na tentativa de extorquir dinheiro de sua família. O plano falhou, os ladrões foram capturados e condenados, o corpo foi recuperado onze semanas depois” (FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charlie_Chaplin)

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
 
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼ 

Ficha Técnica:
Título Original: The Great Dictator
Direção e Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Carter DeHaven (Bacterian ambassador) Paulette Goddard (Hannah)Jack Oakie (Benzini Napaloni)Reginald Gardiner (Commander Schultz)Henry Daniell (Garbitsch)Charles Chaplin (Adenoid Hynkel/Jewish Barber) Paul Weigel (Mr. Agar)Bernard Gorcey (Mr. Mann)Emma Dunn (Mrs. Jaeckel)Billy Gilbert (Field Marshal Herring)Grace Hayle (Madame Napaloni)Maurice Moscovitch (Mr. Jaeckel)
Duração: 124 minutos

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mr. Nobody

E Se?

Escolhas que caracterizam uma trajetória, caminhos percorridos, opções ora certas ora erradas. E se determinada conduta houvesse sido escolhida no lugar daquela que, no fim, gerou arrependimento? E se?
Mr. Nobody (Canadá, 2009) explora hipóteses extremamente amplas, mas também deveras intrínsecas a todos, valendo-se, para tanto, de um verniz futurista cuja real intenção é abrir caminho para uma toada surrealista possuidora de suficiente liberdade para permitir o livre trânsito do longa-metragem entre diversos tempos e espaços.
Neste diapasão, a obra, que inicialmente pode parecer um tanto quanto intricada, vai aos poucos conquistando o espectador ao revelar sua verdadeira natureza, qual seja a de um filme genuinamente romântico que, tal qual Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, EUA, 2004), explora possibilidades fantasiadas por qualquer coração despedaçado.
Indo além, o universo de sonhos que povoa o imaginário humano consiste em temática, por certo, fomentadora de comparações entre a obra em questão e o acelerado A Origem (Inception, EUA, 2010) de Christopher Nolan. Dentro deste contexto, o ritmo de Mr. Nobody é outro, sendo, na verdade, um trabalho muito mais instigante quanto a leitura das informações filosóficas, científicas e metalingüísticas embutidas nas entrelinhas, bem como consideravelmente mais tocante e delicado no que concerne o aspecto dos amores nem sempre bem sucedidos do protagonista.
Discorrer sobre um mosaico tão vasto de idéias não é tarefa simples, razão pela qual de vital importância se mostra para o êxito do filme sua magnífica montagem que - sem incidir no equívoco da sobreposição de enredos – detém o mérito de conciliar com destreza as idas e vindas do personagem Nemo por entre as várias formas de futuro para ele surgidas.
Some-se a isso uma trilha sonora impecável quanto a pontuação das cenas, bem como os eficientes trabalhos de direção de arte e de fotografia os quais, de maneira inconteste, conferem ao longa uma beleza plástica que, por ser ao mesmo tempo discreta, não comete o erro de querer se tornar o foco principal da produção.
Graças as suas infinitas qualidades, Mr. Nobody agrega novos pontos ao currículo do ator Jared Leto - o qual, paulatinamente, constrói uma filmografia marcada por obras do quilate de Clube da Luta (Fight Club, EUA, 1999) e Réquiem Para um Sonho (Requiem for a Dream, EUA, 2000) – assim como serve de vitrine ao talento e ao nome do diretor Jaco van Dormael, artista esse cujos próximos trabalhos, portanto, merecerão a devida atenção, dado o admirável compromisso demonstrado por ele perante o cinema enquanto expressão artística.
Ok, a sequência final de Mr. Nobody indica uma latente preocupação para com o encadeamento lógico dos eventos narrados, revelando, por conseguinte, certo quê de cautela mercadológica, cuidado esse que, num mundo perfeito, poderia ser facilmente dispensado em razão do viés surrealista adotado – estilo que, como sabido, autoriza sem qualquer pudor a relativização da lógica – motivo pelo qual ficam, desde já, os votos para que tal esmero em projetos vindouros não se torne importante ao ponto de oprimir a ousadia e a criatividade do cineasta Dormael ¹.
Todavia, ainda que as supracitadas previsões negativas venham a se consumar – o que não se espera – o diretor já terá registrado na eternidade, por meio de Mr. Nobody, uma nobre lição, qual seja a conclusão de que a vida não é um fim em si mesma, afinal, o que nela realmente importa e lhe dá sentido é o meio, a trajetória percorrida, motivo pelo qual, mesmo que o ponto de chegada não seja exatamente igual ao idealizado, o que enriquecerá o homem serão as decisões tomadas ao longo do percurso e as experiências a partir dele acumuladas. Logo, a vida, independentemente da aparência assumida quando de seu término, sempre valerá a pena ser vivida.
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1.     Pode-se imaginar que o nome do diretor Jaco Van Dormael seja o de um iniciante. Mas, não é. Esse belga de 53 anos de idade já ganhou prêmio em Cannes e ainda foi indicado ao BAFTA e ao Leão de Ouro em Veneza (nesse caso, por Mr. Nobody)”. Fonte: http://cinemaeargumento.wordpress.com/2010/07/23/mr-nobody/.
 
Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
 
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼ 

Ficha Técnica
Título Original: Mr. Nobody
Direção e Roteiro: Jaco van Dormael
Produção:Philippe Godeau
Elenco: Diane Kruger (Anna)Laurent Capelluto, Ben Mansfield (Stefano)Linh Dan Pham (Jeanne)Daniel Mays (Jornalista)Clare Stone (Elise - 16)Chiara Caselli (Clara)Harold P. Manning (Jornalista da TV)Valentijn Dhaenens (Julian)Katharina Pejcic (Filha de Anna)Juno Temple (Anna - 16)Alexander Türk (Filho de Anna)Thomas Byrne (Nemo - 9)Daniel Brochu (Peter)Jared Leto (Nemo Nobody)Sarah Polley (Elise)Natasha Little (Mãe de Nemo)Rhys Ifans (pai de Nemo), Toby Regbo (Nemo - 16)
Música: Pierre van Dormael
Fotografia: Christophe Beaucarne
País de Origem: Canadá
Estreia Mundial: 2011
Duração: 138 minutos

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma Noite na Ópera

As décadas de 1920 e 1930 são consideradas a época de ouro da comédia cinematográfica. Artistas como Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd e os próprios Irmãos Marx são considerados os criadores do gênero que prevalecia nesse período; e também são responsáveis pelo modo de fazer comédia que seguiu adiante por muito tempo. Todos esses atores possuíam características semelhantes: piadas, pensamentos rápidos, inteligentes, trejeitos... 

E em Uma Noite na Ópera não é diferente. Assim como em Diabo a Quatro - um dos filmes mais famosos dos irmãos Marx - as personagens mais estereotipadas se fazem presentes: a mulher rica, o vilão e, claro, os palhaços. Neste filme os irmãos invadem o mundo da ópera para proteger um casal de conhecidos que foi separado na seleção para participar de um musical. Os irmãos Marx precisam tirar o tenor principal do espetáculo, para que o casal volte a se encontrar; já que ela foi selecionada para o elenco e ele não. 

Uma Noite na Ópera deixa a desejar quanto comédia em si. Mas é possível perceber várias sequências que influenciaram comediantes bastante atuais. Woody Allen, por exemplo, sempre se declarou um fã incondicional de Groucho Marx. Mas nesse filme os irmãos exageraram na dose: algumas piadas são repetitivas e eles insistem em algumas gags ao longo do filme inteiro. Porém, por mais que Uma Noite na Ópera não seja um filme brilhante, nem o melhor dos irmãos Marx, existe uma cena no filme hilária e inesquecível, que é o momento em que eles estão dentro de um cômodo do navio e, de repente, a sala de enche de pessoas (a cena que está na foto do post). Esse momento do filme deveria ser repetido pelos comediantes atuais por ser tão engraçada e bem organizada. 

Uma Noite na Ópera (A Night at the Opera) 
Estados Unidos - 1935 
Direção: Edmund Goulding e Sam Wood 
Produção: Irving Thalberg 
Fotografia: Merritt B. Gerstald 
Roteiro: George S. Kauffman e Morrie Ryskind 
Trilha Sonora original: Herbert Stothart
Elenco: Groucho Marx, Chico Marx, Harpo Marx, Kitty Carlisle, Allan Jones, Walter Woolf King, Sig Ruman, Margaret Dumont, Edward Keane, Robert Emmett O'Connor
Duração: 96 minutos


               Carolina Klautau
               

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Rede Social

A Mais Nova Obra Superlativa de David Fincher

Você percebe que está diante de um grande filme quando a vontade de consultar o relógio não surge ou quando, ao contrário, aparece já próxima ao término da projeção; desejo esse que acaba sumariamente descartado por ser impossível desviar os olhos da tela.
A Rede Social (EUA, 2010) constitui um desses raros casos graças a diversos e excelentes fatores como: o elenco afiado, os diálogos ágeis, a montagem inteligente e a direção primorosa de David Fincher que, mais uma vez, demonstra o excepcional contador de histórias que é.
Dentro deste contexto, logo quando anunciado, o projeto de adaptação do livro "Bilionários por Acaso", de Ben Mezrich soava tão estranho quanto hoje soa, por exemplo, a intenção de Ridley Scott em filmar um roteiro inspirado pelo jogo Banco Imobiliário; mas, eis que Fincher contrariou todas as expectativas negativas ao criar um produto de entretenimento para gente grande extremamente interessante e atual. Para tanto, o cineasta esclarece desde a primeira sequência que seu protagonista Mark Zuckerberg não é pessoa das mais agradáveis, desincumbindo-se, assim, do fardo que seria defender alguém com tanta habilidade para ignorar valores como ética e moral.
Neste passo, Fincher adota tal postura sem qualquer ranço maniqueísta, deixando, portanto, para o espectador a opção de compartilhar das motivações do inteligente, controverso e sarcástico “criador” do Facebook ou, em hipótese diversa, repudiar a infidelidade do mesmo para com o amigo e sócio Eduardo Saverin, a canalhice escancarada quando da apropriação indevida da idéia-mote do site de relacionamentos ou, ainda, sua ausência de cavalheirismo no trato com as mulheres.
Oferecer ao público um leque tão vasto de opções fora, por certo, uma brilhante decisão do cineasta, uma vez que tal “estratégia” lhe garantiu o louvável êxito de levar-nos a experimentar cada uma das sensações outrora mencionadas, gerando, por conseguinte, um misto de sentimentos eficaz o bastante para evitar o caminho da partidarização de opiniões.
Envolvente e arrebatador A Rede Social configura o retrato de “alguém desprovido de tato social que, ironicamente, criou a maior ferramenta de interação da história”¹, sendo, ainda, um relato acerca dos limites e barreiras quebrados por um homem quando movido pela ganância - bem como por uma homérica dor de cotovelo. David Fincher, desta feita, maneja elementos complexos que, em contrapartida, não lhe impedem de entregar um filme simples, mas igualmente denso cujo lançamento ajuda a salvar um ano que, convenhamos, pouca colaboração prestou ao aprimoramento da sétima arte.
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1.  Roberto Sadovski in Revista Set. Ano 23. Ed. 271. São Paulo: Aver, Novembro de 2010. p. 71.

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
 
COTAÇÃO - ☼☼☼☼

Ficha Técnica
Título Original: The Social Network
Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin
Produção: Dana Brunetti, Ceán Chaffin, Michael De Luca e Scott Rudin
Produção Executiva: Kevin Spacey
Elenco: Dakota Johnson (Leslie Brown)Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg)Armie Hammer (Cameron Winklevoss) Rooney Mara (Erica Albright)Max Minghella (Martin Turner)Justin Timberlake (Sean Parker)Brenda Song (Joanna Simmons)Trevor Wright (Josh Thompson)Joseph Mazzello (Dustin Moskovitz) Andrew Garfield (Eduardo Saverin)
Música: Trent Reznor
Fotografia: Jeff Cronenweth
Direção de Arte: Curt Beech e Keith P. Cunningham
Figurino: Curt Beech e Keith P. Cunningham
Edição: Kirk Baxter e Angus Wall
Estreia no Brasil: 3 de Dezembro de 2010
Duração: 120 minutos
Curiosidades:
A atriz Rooney Mara fora escalada por David Fincher para encarnar a hacker Lisbeth Salander, protagonista feminina da trilogia literária Millenium cujo primeiro capítulo Os Homens que Não Amavam as Mulheres já fora adaptado pelo cinema sueco e agora ganhará remake pelas mãos do diretor.
Apesar dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevos serem ambos interpretados pelo ator Armie Hemmer, o corpo de Tyler pertence a outro intérprete chamado Josh Pence. Efeitos especiais se encarregaram, portanto, de inserir a cabeça do primeiro ator no corpo do segundo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Zulu

 
O filme narra a história, baseada em fatos reais, de 100 soldados britânicos, que combateram 4000 guerreiros Zulus em 1879. Os Zulus são uma das mais poderosas tribos da África. Eles são retratados no filme com todo esse poder e com a inteligência de quem conhece a região em que vive. Os guerreiros conseguem cercar o pequeno forte britânico e fazer com que as armas de fogo dos soldados pareçam impotentes diante de todo conhecimento territorial e de guerra que eles possuem. 

Desprezando os aspectos técnicos, Zulu não é um dos épicos mais brilhantes do cinema. O enredo do filme não é dos mais complexos, logo as mais de duas horas de duração não eram necessárias; o filme é cansativo e se alonga demais em cenas que poderiam ser bem mais curtas. 

Porém, não há o que reclamar das cenas de batalha e dos aspectos técnicos de Zulu. A fotografia, as interpretações e as cenas de batalha são impecáveis. O filme foi fotografado em Technirama, o que trouxe cores e detalhes esteticamente impecáveis à produção. E é um bom momento de ver a ótima atuação de Michael Caine como Gonville Bromhead. Já as cenas de enfrentamento entre guerreiros e soldados são muito bem retratadas. Muitos figurantes foram contratados para representar a tribo e Cy Endfield conseguiu extrair de todos esses atores uma real tensão do que estava acontecendo no momento. Mas não é possível desprezar aquela antiga visão das tribos africanas: apesar de Zulu deixar claro a noção de guerra que os guerreiros possuíam, ele não deixa de lado a visão do "selvagem" africano. Enquanto eles apenas defendiam suas terras, os ingleses eram as vítimas que estavam sendo atacadas "sem motivo". 

Zulu (The Battle of Rorke's Drift) 
Grã-Bretanha - 1964 
Direção: Cy Endfield
Produção: Stanley Baker, Cy Endfield
Fotografia: Stephen Dade
Roteiro: Cy Endfield, baseado em artigo de John Prebble 
Trilha Sonora: John Barry
Elenco: Stanley Baker, Michael Caine, Jack Hawkins, Ulla Jacobson, James Booth, Nigel Green
Duração: 138 minutos


             Carolina Klautau

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Abutres

Interessante Fusão de Dois Cinemas

A partir dos anos 2000, produções argentinas e sul-coreanas se destacaram sobre os feitos cinematográficos dos demais países do globo. Munidos de apurado senso estético – o que torna seus planos verdadeiras pinturas vivas – os longas-metragens oriundos da Coréia do Sul são, via de regra, marcados pela inserção naquilo que há de mais bizarro e repulsivo no comportamento humano. Dispensando o viés cool e estilizado ao qual, por exemplo, Quentin Tarantino recorre quando da captação de sequências violentas, diretores como Park Chan-wook e Joon-ho Bong optam pela crueza para melhor retratarem a brutalidade do meio no qual estão situados seus personagens, o que, além de tornar as obras sufocantes, lhes garante a característica de extremamente reflexivas em razão da não banalização do tema.
De maneira diferente, os filmes argentinos conquistam crítica e público graças a elegância com que manejam o melodrama, o que, não raro, permite a nossos vizinhos o mérito pela criação de trabalhos saborosos quanto ao peculiar senso de humor e precisos quanto a análise dos relacionamentos interpessoais. Mas, eis que agora surge um título que – talvez até sem o intuito – realiza a interessante fusão destas duas tendências fílmicas, qual seja o argentino Abutres (Carancho, 2010) de Pablo Trapero.
Dito isso, faz-se mister esmiuçar a história abordada no filme para, assim, melhor assimilar o cerne da análise, por isso, saltemos, então, para a sinopse: enquanto no Brasil a figura do advogado inescrupuloso é conhecida como presença constante nas portas de cadeia, na terra dos hermanos aquele profissional da lei costuma fazer serão em recepções de hospitais para, assim, “socorrer” vítimas de acidentes de trânsito e, ato contínuo, extrair delas as procurações necessárias para litigar contra as companhias de seguro. Num esquema que envolve de paramédicos a policiais, a grande vantagem é obtida quando do recebimento das indenizações, ocasião em que o nobre causídico repassa para seu leigo cliente um percentual setenta ou até oitenta vezes inferior a real quantia paga pela seguradora.
 Isto posto, é em um ambiente violento e hostil que atua o advogado Sosa (Ricardo Darín). Insatisfeito com a vida medíocre que leva, Sosa visualiza a possibilidade de mudança de ares ao ter o coração arrebatado pela paramédica Luján (Martina Gusman), momento esse em que cresce naquele o desejo de consertar as coisas para, consequentemente, começar a agir como um homem de princípios.
Tal como Sosa, Luján exercita sua profissão sem muito ânimo; cansada e precisando urgentemente desfrutar de algumas horas de sono, a mulher alivia a tensão do cotidiano aplicando-se calmantes que lhe submetem a uma inconteste dependência, fator esse que, aliado a estafa física e mental, colabora para que erros médicos passem a fazer parte da rotina laboral de Luján.
Ele e ela, portanto, constituem um par de errantes cujo único desejo é o de ter o mínimo de paz necessário para a reconstrução de suas trajetórias, anseio esse que acaba frustrado em razão, sobretudo, das escolhas equivocadas tomadas por Sosa no passado e que, agora, assombram o pretenso presente do casal.

No elenco, Ricardo Darín novamente demonstra o estupendo ator que é, ao passo que Martina Gusman (esposa do diretor Trapero) se revela como grande e agradabilíssima surpresa face uma atuação contida mas plenamente hábil quanto a demonstração do que significa transitar rente ao próprio limite, daí porque o entrosamento da dupla de protagonistas se mostra quase que palpável, garantindo, por óbvio, uma credibilidade ainda maior a produção.

Considerando todos os fatores elencados, Abutres não deixa de caracterizar o relato argentino de uma história de amor; a diferença nesse caso consiste no caos e na crueldade que imperam em uma narrativa fruto da ótica bruta, crua e, acima de tudo, inquietante do cineasta Pablo Trapero que, em virtude de tais características, logra o êxito de passar ao espectador os mesmos sentimentos de agonia e desespero experimentados pelos personagens.
Como outrora sugerido, Abutres é o filme argentino mais sul-coreano já feito; logo, não obstante suas características particulares, resta provado que os cinemas de países completa ou vagamente diferentes podem tranquilamente dialogar entre si para, a partir dessa experiência, galgar novos saltos de qualidade pela via da mistura de influências que, conforme a lição de Trapero, não precisa afastar o toque peculiar conferido pela nacionalidade. Não é a toa Abutres conseguir, ao mesmo tempo, ser uma obra tocante ainda que feita para ser assistida roendo as unhas. É ver para crer e/ou compreender.
 
Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)

COTAÇÃO - ☼☼☼☼

Ficha Técnica
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Alejandro Fadel, Martín Mauregui, Santiago Mitre e Pablo Trapero
Fotografia: Julián Apezteguia
Direção de Arte e Figurino: Mercedes Alfonsín
Edição: Pablo Trapero e Ezequiel Borovinsky
Estreia no Brasil: 3 de Dezembro de 2010
Duração: 107 minutos
Curiosidades: Além de eleito como o representante da Argentina na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2011, Abutres foi escolhido como o mais novo trabalho não americano a ser refilmado em Hollywood. Neste sentido, Scott Cooper (Coração Louco) está cotado para dirigir a versão norte-americana, cujo roteiro ficará sob a batuta de Aaron Stockard (Atração Perigosa).