sábado, 18 de maio de 2013

Nuvem 9

  ONDE O AMOR E A PAIXÃO NÃO CONHECEM IDADE

O tema  do amor e do  desejo na velhice  em “NUVEM 9” (Wolke 9) Alemanha/2008, de Andreas Dresen,  é tratado com extrema delicadeza pelas lentes do diretor que também assina o roteiro. O  despertar  da paixão e  de um novo amor em  uma mulher idosa depois de 30 anos  de  casamento é o ponto de partida deste  drama que nos  arremesa  junto com ela ao seu paraíso particular, a este estado de  graça que  sugere  o título do  filme. Porém há  um preço a ser pago para  entrar nele pois não se pode  desligar o sentimento dos  envolvidos nesse transito amoroso num simples apertar de botão. Vale  lembrar  que “Nuvem 9” é  anterior ao polêmico “AMOR” (2011) de Michael  Haneke que  faz a sua  versão  do amor  entre  um casal  de idosos de  forma  muito particular sem deixar  respostas para explicar  o que  é  o  próprio amor. Haneke foi considerado pessimista e doentio por  muitos, mas  eu  o considero um gênio por  não  dourar  a pílula.

 A “nuvem” de Andreas Dresen dialoga  de certa  maneira  com  o “AMOR” de  Haneke no que tange  à  discorrer  sobre  o amor na terceira idade, quando as  forças e o vigor  natural e   gradativamente se vão. Para  muitos não é nada  confortavel  (ante)ver na tela um estágio de vida  em que  todos nós passaremos, e é  nesse ponto que  também ambos os  filmes podem incomodar a platéia muito sensível ou avessa à discussão sobre a finitude da  vida.   Um filme pode parecer mais  otimista que o  outro, mas  em uma  relação a três alguém  inevitavelmente sai perdendo e é    que  a nuvem fica carregada e se transforma  em tormenta para o  casal Inge (Ursula  Werner) e  Werner (Horst Westphal), aliás  dois bons atores em atuações impecáveis.
A imagem do personagem  Werner em  ‘ver a paisagem passar pela janela  do  trem é  sempre  mais  bela  que  a paisagem da  via  expressa’  dá a sensação  de  que  além da  vida  ser muito  breve e  fugaz  as  escolhas  podem  ser  determinantes mas nunca  definitivas.  
 Assistir  ao  filme “NUVEM 9”  me fez  lembrar  do poema “Quadrilha” de Carlos  Drummond de Andrade, mas  no contexto do  filme, mesmo que esse  amor  seja triangular as  possibilidades  ficam em aberto: Werner  que  amava Inge que  amava Karl e que podem amar outrem se o tempo de  vida permitir... 
                                                   
No filme  de Andreas o Eros não se importa  com as  contingências de Cronos e nem  com os  tabus sociais. O amor  transcende sim o físico e o apelo da beleza   juvenil, pois  quando  termina  o vigor  o que  fica  é  o companheirismo, a  cumplicidade, o afeto, a humanidade  que nada mais são que a própria essência  do amor.
  
Elias Neves (texto originalmente publicado em http://www.eliasneves.blogspot.com)