quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vergonha

A Sobrevivência e Suas Exigências

Em poucos anos essa menina vai ser uma mulher que pede muito pouco da vida, que nunca incomoda ninguém, nunca deixa transparecer que ela também tem tristezas, desapontamentos, sonhos que foram menosprezados. Uma mulher que vai ser como uma rocha no leito de um rio, suportando tudo sem se queixar. Uma mulher cuja generosidade, longe de ser contaminada, foi forjada pelas turbulências que se abateram sobre ela. (...) algo tão arraigado que (...) nem os talibãs conseguiram destruir. Algo tão rijo e inabalável quanto um bloco de calcário. Algo que, afinal, acabou sendo a sua ruína”.
Em A Cidade do Sol Khaled Hosseini, mundialmente conhecido por seu romance de estréia O Caçador de Pipas, narra a história de mulheres cujas vidas foram devastadas pela guerra que assola o Afeganistão desde a invasão soviética, há cerca de três décadas.
Abandonadas à própria sorte, tais figuras são obrigadas a reescrever seus destinos para, desse modo, sobreviverem dia após dia. Se por um lado suas dores e humilhações lhes ajudam a se rebelar quando da iminência da morte, por outro ângulo tais reveses não constituem elementos hábeis a corromper suas naturezas, o que para uns há de ser encarado como mera resignação, enquanto para outros pode ser visto como perseverança quanto ao simples desejo de viver - ainda que isso não implique necessariamente em otimismo quanto ao dia de amanhã.
Tal narrativa me faz pensar em Vergonha (Suécia, 1968) de Ingmar Bergman. Partindo de um fio condutor semelhante, qual seja o poder de devastação da guerra sobre o homem e suas relações sociais, o cineasta explora uma realidade mais ordinária, centrando seu foco justamente nas transformações da personalidade perante situações limite.
Neste passo, Eva (Liv Ullmann) representa a fortaleza, a mulher de opiniões e posturas racionalmente delineadas, ao passo que Jan (Max Von Sydow) é o companheiro frágil, cuja escolha pelo escapismo, no que tange a aproximação da guerra, concede-lhe ares, por vezes, patéticos.
Mas, eis que a guerra lhes bate à porta – literalmente – para, em seguida, preencher espaços antes ocupados pela própria relação amorosa do casal. Assim, aos poucos ambos vão esquecendo o sentimento que compartilhavam para, lentamente, se tornarem meros parceiros de sobrevivência.
Dentro deste contexto, para ela tal transição é imbuída de uma fraqueza e de uma fragilidade que antes lhes eram desconhecidas, enquanto nele a barbárie desperta instintos, sobretudo de violência, que lhe levam a abdicar de qualquer vergonha, convenção ou sensibilidade em favor da selvageria que o ato de sobreviver passa a exigir.
Para construir tal enredo Bergman se vale da primorosa fotografia em preto e branco de Sven Nykvist, marcada aqui pela capacidade de ora arremessar a platéia para dentro da trama, o que ocorre por meio de belíssimos closes, e de ora reposicionar o público na sua função observadora/analítica através de diálogos filmados com total ausência de contra planos.
Destarte, de nada valeriam tais recursos sem a presença de Liv Ullmann e Max Von Sydow que brilham em papeis ricos e, por isso, extremamente difíceis. A atriz expressa todo o inconformismo inicial e o desespero final de sua personagem tão somente com a força de seu olhar; nele se materializam transições e se transformam sentimentos, ao passo que o ator utiliza seu porte, sua estatura primeiro para indicar a insegurança de seu protagonista e em seguida para revelar a brutalidade que no homem eclode.
Vergonha, desta feita, é trabalho de time grande que sabe o que faz. É filme no qual todos os elementos são eficientes e dignos de aplauso. Aplaudamos, então.

Dario Façanha
(texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)

COTAÇÃO - ☼☼☼☼

Ficha Técnica
Título Original: Skammen
Direção e Roteiro: Ingmar Bergman
Produção: Lars-Owe Carlberg
Fotografia: Sven Nykvist
Elenco: Liv Ullmann (Eva), Max Von Sydow (Jan), Sigge Fürst (Filip)Gunnar Björnstrand (Jacobi)Birgitta Valberg (Mrs. Jacobi)Hans Alfredson (Lobelius)
Duração: 103 min.

sábado, 19 de junho de 2010

Era Uma Vez em Tóquio

Minimalismo de Fachada

Se, por um lado, o modo de filmar de Yasujiro Ozu ficara consagrado - em considerável fração de sua filmografia e principalmente no exemplo de Era Uma Vez em Tóquio (Japão, 1953) – por um rigoroso minimalismo, em contrapartida, tal característica jamais poderá ser entendida como inferioridade quanto a qualidade e profundidade de sua obra.
Na hipótese do trabalho ora analisado, a aparente simplicidade da técnica de Ozu posiciona a câmera a um metro de distância do chão na maioria das cenas, captando, assim, de forma estática, diálogos densos entremeados por cortes secos. Com isso, o cineasta cumpre com louvor dois objetivos, quais sejam os de:
1. Valer-se de interpretações pouco corpóreas, centradas, na verdade, em olhares, o que, além de coadunar com a proposta estética, confere sensibilidade e dignidade à abordagem de temas cotidianos, embora complexos.
2. Direcionar a atenção da platéia para o enredo que se desdobra na tela e para a subjetividade das leituras permitidas; afinal, a história do casal de anciãos que faz uma última viagem para rever os filhos – muito embora seja contada com sobriedade suficiente para desviar-se de julgamentos banais sobre os personagens – não permite que o espectador saia incólume da experiência que Era Uma Vez em Tóquio representa, visto que os dramas familiares narrados se revelam como temáticas universais passíveis de ocorrer em qualquer lar, daí ser compreensível a angústia sentida por quem o assiste.
O longa-metragem, neste sentido, trata de falhas dos mais novos talvez fomentadas por erros passados dos mais velhos. Ozu não pretende fixar tais limites, mas sim demonstrar o quão egoístas somos, bem como o quão pouco nos empenhamos para com nossos papeis de pais e/ou de filhos.
Longe de qualquer otimismo ilusório, o cineasta não visualiza qualquer mudança de panorama, já que, conforme sua visão, o inconformismo juvenil perante o comportamento de seus antecessores cedo ou tarde é vencido por decepções trazidas pela vida, ocasião em que a resignação, imbuída de frustração, toma o lugar do primeiro, fazendo, desse modo, com que aceitemos, condescendentes, nossas reais naturezas.

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼

Ficha Técnica
Título Original: Tokyo Monogatari
Direção: Yasujiro Ozu
Elenco: Chishu Ryu (Shukishi Hirayama)Toyoko Takahashi (vizinha) Teruko Nagaoka (Yone Hattori)Hisao Toake (Osamu Hattori)Shirô Osaka (Keiso Hirayama)Kyôko Kagawa (Kyoko Hirayama)Eijirô Tono (Sanpei Numata)Nobuo Nakamura (Kurazo Kaneko)Kuniko Miyake (Fumiko Hirayama)Sô Yamamura (Koichi Hirayama)Haruko Sugimura (Shige Kaneko)Setsuko Hara (Noriko Hirayama)Chieko Higashiyama (Tomi Hirayama)
Duração: 136 minutos
Grande Cena:
“- A vida não é decepcionante?
- Sim”.
Curiosidade: “Steven Spielberg pegou emprestado um recurso de Ozu para rodar o seu clássico E.T. – O Extraterrestre (1982). O longa é filmado com câmera baixa, para outros propósitos: traduzir na tela o ponto de vista da criança”. Fonte: Bravo! 100 Filmes Essenciais. 3ª Ed. São Paulo: Abril, 2009. p. 40.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Por Uns Dólares A Mais

Por Uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro In Piu)
Itália, Espanha, Alemanha e Mônaco - 1965
Direção: Sergio Leone

Clint Eastwood (Manco) e Lee Van Cleef (Coronel Douglas Mortimer) são dois pistoleiros que estão atrás do mesmo bandido: El Indio (Gian Maria Volonté). Quando percebem isso, procuram se aliar para capturá-lo; apesar de não ser uma aliança tão confiável.

Em Por Uns Dólares a Mais o estilo de filmar de Leone já é bem mais definido do que em Por Um Punhado de Dólares, apesar de ainda não ter alcançado todo seu potencial de direção. Os planos-sequência e os infinitos closes já aparecem bem mais, dando mais qualidade ao filme. Também há melhoria nas atuações, no caso, de Clint Eastwood: parece que com esse filme, ele, finalmente, marca o seu personagem enigmático que viria a se repetir em tantos outros papéis. Leone também revela, aos poucos, os elementos emocionais que mais utiliza em seus filmes: angústia e tensão, mas sempre com uma dose de bom-humor.

Um dos motivos que permitiu que Leone explorasse mais a fotografia e o movimento de câmeras foi um considerável aumento de orçamento que recebeu após popularizar os western spaghetti.

Sergio Leone é um daqueles diretores que dão um grande passo a cada filme que realizam. E mais importante: sabe como usar todo esse aprendizado, criando uma estética e uma atmosfera única. A Tilogia do Homem Sem Nome é um dos maiores exemplos de rápida superação de um cineasta. Por Um Punhado de Dólares e Por Uns Dólares a Mais culminaram em um dos maiores westerns de todos os tempos: Três Homens Em Conflito. Neste filme sim Sergio Leone mostra suas características com plenitude.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

7 Anos

Fidelidade Quanto a Proposta

7 Anos (França, 2006) narra a trajetória de um intricado triângulo amoroso. O marido está preso, motivo pelo qual pede a seu carcereiro que seduza sua esposa para que assim esta retome sua vida sexual.
Inicialmente os três envolvidos encaram essa oportunidade com frieza predeterminada. Cada um possui, a seu modo, objetivos específicos: o prisioneiro quer escutar gravações dos orgasmos de sua mulher, ao passo que esta e seu amante buscam tão somente o sexo escapista.
Porém, como as relações humanas nada tem de fórmulas matemáticas, as metas de cada um começam a se tornar incômodas à medida que sentimentos vão tomando o lugar do distanciamento calculado.
O sexo, então, muda de cenário: do banco do automóvel do amante os encontros eróticos pulam para a cama deste que, por sua vez, passa a exigir da mulher algo além de uma relação carnal.
A esposa, em contrapartida, deixa de compreender até que ponto satisfaz a si própria e/ou a seu marido que encarcerado perde o equilíbrio ao perceber que as peças do jogo que criara não se movem mais conforme seu bel prazer.
Filmado e montado em consonância com o estado de espírito de seus personagens, 7 Anos é marcado pelo predomínio de uma frieza – caracterizada nos cortes secos que permitem pouca aproximação da platéia para com o trio de protagonistas – durante quase toda sua duração, para, em seguida e já próximo ao final ganhar ares de sensibilidade que ressoam as reflexões de cada membro do triângulo amoroso; momento esse em que os planos se mostram ligeiramente mais longos e contemplativos, valendo-se, neste sentido, de uma troca de ambientes urbanos para locações paradisíacas, ainda que gélidas – afinal, não podemos esquecer que a frieza constitui o eixo central da trama.
Dentro deste contexto, a fidelidade do diretor Jean-Pascal Hattu perante a proposta de seu roteiro é inconteste, mesmo que isso possa implicar a rejeição do espectador para com o drama desenvolvido.

Dario Façanha
(texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
COTAÇÃO: ***

Ficha Técnica
Título Original: 7 Ans
Direção e Roteiro: Jean-Pascal Hattu
Elenco: Valérie Donzelli, Bruno Todeschini, Cyril Troley
País de Origem: França
Estreia: 3 de Setembro de 2006
Duração: 86 minutos

domingo, 6 de junho de 2010

Opressão sexual e desigualdade de classes. A alternância dos temas enquanto panos de fundo.

Prevendo a revolução sexual que não tardaria a ocorrer, Clamor do Sexo é a retratação definitiva do desejo reprimido. Num filme em que hormônios e feromônios saltam da tela, Bud Stamper (Warren Beaty) e Deannie Loomis (Natalie Wood) formam um casal adolescente cuja sexualidade é duramente oprimida pelo meio em que vivem, qual seja o estado do Kansas no ano de 1928.
O pai do garoto não compreende tamanho fascínio de seu filho pela namorada, daí não hesitar em mudá-lo de cidade para que o mesmo curse universidade e se torne, assim, gente grande cuja lascívia pode ser aplacada por profissionais do ramo.
A mãe da garota, por sua vez, pouco se importa com o grau de afetividade nutrido por sua filha para com o namorado, eis que, na verdade, sua grande preocupação consiste em zelar pela virgindade da moça para que, assim, esta não se torne pessoa indigna a contrair matrimônio com o bom partido que Bud representa.
Por outro lado, a irmã de Bud acabara de retornar da cidade grande para cumprir exílio no Kansas por conta de condutas moralmente deploráveis para o momento. Sua presença, neste sentido, exala rebeldia e tensão sexual, o que não deixa de abalar ainda mais os nervos de seu irmão que, por sua vez, não consegue admitir a idéia de sentir tanto amor mas também tanto desejo por sua amada Deannie que, em cumprimento as orientações de sua genitora, trata de se esquivar o mais rapidamente de qualquer toque mais ousado do rapaz - muito embora também tenha o sexo clamando dentro de si.
Desta feita, cada membro do casal, a seu modo particular, enlouquece com a falta de contato físico e com a posterior separação que urge por ocorrer. Ele se torna um vadio, ela uma depressiva que não pensa duas vezes antes de tentar o suicídio.
O puritanismo e a opressão impostas pela igreja, pela sociedade e, principalmente, por seus pais se voltam contra estes últimos que testemunham, então, a infelicidade de seus filhos sem que consigam, em contrapartida, tomar qualquer atitude para a mudança do panorama.
Neste diapasão, a crise das bolsas de valores de Nova Iorque em 1929 eclode no momento em que Bud e Deannie reiniciam suas próprias caminhadas, daí o cenário desolado e abandonado que servirá de cenário para o último e mais infeliz encontro do casal – numa das despedidas mais dramáticas que o cinema já produziu.
Brilhante na construção de sua narrativa, Elia Kazan extrai da força de interpretações baseadas no método do Actors Studio a naturalidade e a sensibilidade propostas pelo enredo, valendo, por isso, destacar a segurança de Warren Beatty em sua estreia, bem como a leveza do trabalho de Natalie Wood.
Isto posto, o cineasta realiza profunda análise sobre sentimentos oprimidos sem nunca se esquecer da ambientação ecônomico-social da história, qual seja a desigualdade social de classes que logo se igualariam graças a crise econômica que assolaria a América.
Abordando semelhante temática, mas invertendo os pólos de predominância, Um Lugar ao Sol utiliza a sexualidade repreendida para, assim, enfatizar as diferenças de classes sociais.
Neste caso, portanto, é o desejo proibido que serve de moldura, isso porque George Eastman, personagem de Montgomery Clift, representa o primo pobre de sua abastada família, razão pela qual assume um emprego de baixo calibre nos galpões de empacotamento da fábrica de seus parentes, local onde inconsequentemente burla as regras da empresa para, assim, iniciar um flerte com uma das funcionárias (Shelley Winters).
A referida empregada, apesar de seus louváveis esforços, não consegue resistir aos encantos do rapaz e acaba, então, cedendo-lhe uma noite de amor. Apaixonada, Alice vê o interesse de George por ela diminuir à medida que este é aos poucos absorvido pelo universo de riqueza de seus familiares.
Deslumbrado com esse mundo novo, o rapaz logo conhece Angela Vickers (Elizabeth Taylor) por quem se enamora e por quem, para sua surpresa, passa a ser amado. Neste passo, inebriada com a beleza e com a personalidade complexa de seu novo namorado, Angela não tarda em revelar sua intenção casamenteira para George que extasiado com a larga proporção de coisas boas surgindo em sua vida – vide a promoção em seu emprego e a reciprocidade do amor da mulher mais linda e rica da cidade – vê subitamente sua felicidade ruir ao receber o anúncio da gravidez de Alice.
Logo, a única noite de transgressão perante as convenções sociais e sexuais da sociedade passa a ser o seu calvário face as iminentes ameaças de Alice em tornar pública sua prenhez.
Imbuído, então, de intenções assassinas, George leva a grávida para um passeio de barco cujo fim seria o afogamento de Alice não fosse a falta de coragem do protagonista. Todavia, ainda que não consiga praticar o crime de forma ativa, o rapaz não consegue evitar que Alice num momento de desespero fomentado por uma discussão escorregue e caia na água.
Como a morte acidental da moça lhe era cômoda, George omite qualquer socorro, o que não impedirá, entretanto, a aplicação contra ele de uma pena capital. Dentro deste contexto, sua família trata de garantir que o julgamento resulte na mais breve extirpação do membro pobre e marginal, como forma de não só garantir a integridade do clã como também de evitar o conhecimento da imprensa acerca do envolvimento amoroso do assassino com a menina rica, o que, inegavelmente, seria deveras constrangedor.
Valendo-se de uma fluidez dramática capaz de fazer inveja a qualquer diretor, George Stevens leva o espectador a um passeio pela vida de George Steaman, personagem este cujo carisma de seu intérprete impede que o mesmo seja objeto de simplórias definições como bandido ou mocinho, graças ao misto de ingenuidade e de malícia que lhe é aplicado, o que deixa a audiência na corda bamba quanto a opção de torcer ou não por ele, o que, sem dúvida, é um trunfo presente em poucos filmes.

Dario Façanha
(texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
COTAÇÕES:
Clamor do Sexo - ☼☼☼☼☼
Um Lugar ao Sol - ☼☼☼☼☼

Ficha Técnica - Clamor do Sexo

Título Original: Splendor in the Grass
Direção:Elia Kazan
Roteiro:William Inge
Elenco: Barbara Loden (Ginny Stamper)Warren Beatty (Bud Stamper)Pat Hingle (Ace Stamper)Audrey Christie (Mrs. Loomis)Natalie Wood (Wilma Dean 'Deanie' Loomis)Crystal Field (Hazel)Sandy Dennis (Kay)Gary Lockwood (Toots)Martine Bartlett (Miss Metcalf)Jan Norris (Juanita Howard)John McGovern (Doc Smiley)Joanna Roos (Mrs. Stamper)Fred Stewart (Del Loomis)Zohra Lampert (Angelina)Marla Adams (June)
Ano: 1961
Duração: 124 minutos

Curiosidades:

Dennis Hopper foi considerado para o papel de Bud Stamper

O filme venceu o Oscar na categoria de melhor roteiro original, sendo, ainda indicado na categoria de melhor atriz (Natalie Wood).

Ficha Técnica – Um Lugar ao Sol

Título Original: A Place in the Sun
Direção e Produção: George Stevens
Elenco: Ted de Corsia (Judge R.S. Oldendorff)Charles Dayton (Det. Kelly)Mike Mahoney (Motorcycle officer),Walter Sande (Art Jansen, George's Attorney)John Ridgely (Coroner),Sonny HoweJames Horne Jr. (Tom Tipton)Herbert Heyes (Charles Eastman),Paul Frees (Rev. Morrison, priest at prison)John M. Reed (Joe Parker),William B. Murphy (Mr. Whiting),Kathryn Givney (Louise Eastman),Montgomery Clift (George Eastman)Pat Combs,Marilyn Dialon (Frances Brand),Shepperd Strudwick (Anthony 'Tony' Vickers),Ian Wolfe (Dr. Wyeland),Raymond Burr (Dist. Atty. R. Frank Marlowe),Anne Revere (Hannah Eastman)Kasey Rogers (Miss Harper)Elizabeth Taylor (Angela Vickers),Shelley Winters (Alice Tripp),Pearl Miller (Miss Newton),Frieda Inescort (Mrs. Ann Vickers)
Ano: 1951
Duração: 122 minutos

Curiosidades:

Ao assistir ao filme, assim se manifestou Charles Chaplin: "É o melhor filme que assisti na vida. Registra a supremacia do cinema sobre todas as outras formas de arte". Chaplin também enviou uma carta para Montgomery Clift, manifestando a este sua admiração pelo brilhante desempenho. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Um_Lugar_ao_Sol_%28filme%29.
O filme foi vencedor de 6 Oscar, incluindo Melhor Diretor, Edição e Roteiro, sendo nomeado, ainda, nas categorias de melhor filme, melhor ator (Montgomery Clift) e melhor atriz (Shelley Winters).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quincas Berro D’Água

Paletó de Madeira Não Foi Feito Pra Malandro

No dia em que completaria 72 anos de idade o malandro Quincas Berro D’Água passa dessa para uma melhor, despertando, assim, uma comoção geral na cidade baixa da Salvador dos anos 50, local onde o falecido colecionou amigos, bebedeiras e histórias.
Inconformados em ver Quincas, o maior de todos os vagabundos, vestindo um paletó de madeira, seus parceiros de pinga surrupiam durante o velório o corpo do de cujus a fim de levá-lo a uma última cachaçada¹, o que acarreta o desespero de parentes do defunto ansiosos por enterrá-lo o quanto antes para que assim seus pares da cidade alta não descubram que um vadio maculava a imagem da família.
Baseado em obra de Jorge Amado, Quincas Berro D’Água é uma esperta comédia de costumes que analisa sem qualquer ar sisudo temas como as diferenças entre classes sociais, além do preconceito ao próximo e a suas opções sexuais, religiosas e/ou ideológicas.
Neste sentido, apesar de tecer críticas sarcásticas sobre os assuntos mencionados, o filme jamais tenta se afastar do apelo popular, abraçando sem qualquer vergonha, tal qual Quincas, o entretenimento como objetivo principal.
E é isso o que garante inegável charme ao trabalho em comento; afinal, mesmo assumindo postura despretensiosa, o longa-metragem logra êxito em passar para a platéia as reflexões incutidas por Jorge Amado em seus livros. Não fosse o bastante, a produção revela, ainda, louvável esmero de sua equipe técnica sobre elementos como fotografia, direção de arte e figurinos, reconstituindo, portanto, com sutil beleza a capital baiana de sessenta anos atrás.
Mesmo que o tom melancólico adquirido no ato final do filme destoe do restante do conjunto, seu impecável elenco atenua a gravidade desse descompasso graças a vibrantes atuações, dentre as quais cabe destacar o simpaticíssimo grupo de amigos vadios de Quincas, bem como sua filha ora recatada ora despudorada interpretada por uma Mariana Ximenes sensual e linda como nunca.
______________________________________
1. A premissa do cadáver metido em confusões, além de abordada por Jorge por Jorge Amado em 1961 no livro A morte e a morte de Quincas Berro D’Água, também fora explorada pelo cinema norte-americano no filme Um Morto Muito Louco (EUA, Ted Kotcheff), uma comédia ingênua – e, justamente por isso, charmosa – típica dos anos 80. O sucesso da produção, vale lembrar, lhe rendeu uma sequência que, como quase sempre, nada acrescentou a antecessora.

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://setimacritica.blogspot.com/)
COTAÇÃO - ☼☼☼

Ficha Técnica
Direção: Sérgio Machado
Elenco:Maria Menezes (Lolita )Paulo José (Quincas)Mariana Ximenes (Vanda)Marieta Severo (Manuela)Flavio Bauraqui (Pastinha)Luis Miranda (Pé de vento)Irandhir Santos (Cabo martim)Frank Menezes (Curió)Walderez de Barros (Tia Marisa)Milton Gonçalves (Delegado Moraes)Othon Bastos (Alonso)Carla Ribas (Otacília)Germano Haiuti (Tio Eduardo)Érico Brás (Agenor)Angelo Flávio (Zico)Vladimir Brichta (Leonardo)
País de Origem: Brasil
Estreia: 21 de Maio de 2010
Duração: 100 minutos
Grande Cena: “Caminha Lázaro!”.
Curiosidades:
Salvador também servira de cenário e de personagem em Cidade Baixa, filme anterior do cineasta baiano Sérgio Machado.
O pôster de Quincas Berro D’Água fora inspirado no cartaz de Anatomia de um Crime (EUA, Otto Preminger) que, por sua vez, também já fora homenageado na imagem de divulgação de Irmãos de Sangue, filme de Spike Lee (EUA, 1995).

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Intriga Internacional

Intriga Internacional (North by Northwest)
Estados Unidos - 1959
Direção: Alfred Hitchcock

Cary Grant interpreta Roger Tornhill, um publicitário que é confundido com um agente secreto. Para provar que é inocente, Tornhill passa por diversas situações perigosas, que culminam em uma perseguição no Monte Rushmore (monumento com o rosto dos 4 presidentes dos Estados Unidos, na Dakota do Sul).

Intriga Internacional é um filme típico de Hitchcock: mantém o suspense até os últimos minutos. É considerado uma de suas melhores produções e aparece em algumas listas como um dos maiores filmes de todos os tempos. Todas as atribuições positivas que recebeu são merecidas.

Logo que o filme começa, qualquer um que conheça um pouco do estilo de Hitchcock, sabe que Intriga Internacional tem todas as características do diretor, inclusive os créditos, que conta com mais uma parceria de Saul Bass.

Intriga Internacional também foi inspiração para diversos filmes, inclusive para as sequências de 007, como afirma o cineasta francês François Truffaut (Os Incompreendidos, Fahrenheit 451), para ele, os filmes do espião James Bond jamais seriam os mesmos sem Intriga Internacional.

Além da inspirada direção de Alfred Hitchcock, a atuação do casal Roger Tornhill (Cary Grant) e Eve (Eva Marie Saint) é totalmente sincronizada. Os dois conseguem deixar o espectador confuso sobre o que é realmente verdade ou não em tudo o que dizem. É notável também a fotografia do filme, principalmente nas cenas do Monte Rushmore e na perseguição de Tornhill por um avião do meio de um campo de milho. Esses dois momentos são considerados uns dos mais famosos na história do cinema.

Intriga Internacional é um filme perfeito: o roteiro não deixa a desejar, as atuações são notáveis, a fotografia é muito expressiva e a direção tem todos os elementos característicos de Alfred Hitchcock. Este filme é mais uma confirmação de que ele realmente merece todas as menções feitas a seu nome.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Jardineiro Fiel




Jardineiro Fiel (The Constant Gardener)
Estados Unidos - 2005
Direção: Fernando Meirelles

Antes de ser um filme extremamente interessante, O Jardineiro Fiel situa o espectador em um dos problemas mais polêmicos da África: o lobby da indústria farmacêutica, a exploração da população como "cobaias" para experiências científicas e o alto custo desses remédios, entre eles o coquetel usado contra o vírus da AIDS. Fernando Meirelles conseguiu fazer um filme polêmico, atual e muito dinâmico.

O diplomata Britânico Justin Quayle (Ralph Fiennes) é enviado à África junto com sua esposa Tessa (Rachel Weisz). Ela acaba se tornando uma ativista em prol da população africana e ele precisa continuar trabalhando para o governo, mesmo sabendo de toda podridão que está por trás dessa aliança entre os países. Porém, Justin só consegue acreditar no que a esposa havia descoberto, quando ela é assassinada por ordens do governo local. Nesse momento Justin resolve retomar as atividades da esposa, enfrentando diversos desafios.

Ralph Fiennes e Rachel Weisz estão perfeitos como marido e mulher: ele, representando toda a seriedade de um diplomata, e ela, vivendo todos os seus sonhos e ideais para ajudar a causa que acredita. A relação dos dois vai amadurecendo a cada ano que passam juntos; até mesmo com a morte da esposa, ele continua descobrindo cada dia que passa um lado diferente da personalidade de Tessa.

O Jardineiro Fiel é baseado no livro do autor inglês John Carré e Fernando Meirelles conseguiu fazer um filme de temática essencialmente política, mas sem ficar preso à subjetividades. O problema da indústria farmacêutica é claro. Não há uma tentativa de indicar um país culpado, o que interessa no filme é expor o fato do jeito que ele realmente é, sem se prender em mocinhos e bandidos.

Também é possível retomar várias questões de cunho social com o tema de O Jardineiro Fiel, por exemplo, qual é o valor de uma vida para as grandes empresas da indústria farmacêutica? até onde é possível chegar para alcançar um objetivo? até onde a população pode se informar sem sofrer represálias pelo governo? que tipo de governo temos? entre outros temas. Este é o tipo de filme que deixa o espectador pensando em muitas coisas, até mesmo dias depois de tê-lo assistido.

O Jardineiro Fiel pode ser considerado um Thriller da melhor qualidade. A direção de Fernando Meirelles é impecável: ele dá movimento quando precisa ou diminui o ritmo quando o espectador precisa de mais atenção. Tudo é extremamente bem equilibrado. Então, esse filme é mais uma prova do grande trabalho que o diretor brasileiro vem fazia ao longo de vários anos; além de O Jardineiro Fiel, obteve destaque também na direção de Cidade de Deus (2002) e Ensaio Sobre a Cegueira (2008).

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sonhos


Enquanto David Lynch (O Veludo Azul, O Homem Elefante) nos revela seus mais perturbadores pesadelos no filme “Eraserhead”, Akira Kurosawa nos presenteia com seus mais belos sonhos no filme denominado simplesmente de “Sonhos”. O filme de 1990 é composto por oito episódios independentes, mas que de certa forma se relacionam com certa dose de poesia e beleza. Tais episódios têm as seguintes denominações, respectivamente: “Brilho do Sol Través de Chuva”; “O Pomar do Pêssego”; “A Tempestade de Neve”; “O Túnel”; “Corvos”; “Monte Fuji em Vermelho”; “O Demônio Chorão” e “A Aldeia de Água”.


Sonhos, é um dos últimos filmes dirigidos por Kurosawa em seus 50 anos de carreira, com produção norte-americana, destaque para Steven Spielberg (A Lista de Schindler, E.T – O Extraterrestre). Após ter visto sua obra ser incompreendida pelo público japonês, o diretor tenta o suicídio em 1971, mas o luminoso (Akira = “O Luminoso” em japonês) Kurosawa ainda tinha muito que fazer pelo cinema arte. “Um desses salmões, não vendo outro caminho, empreendeu uma longa jornada para subir um rio soviético e dar à luz algum caviar. Assim surgiu meu filme Dersu Uzala em 1975. Nem eu penso que seja essa uma coisa ruim. Mas o mais natural, para um salmão japonês, é pôr seus ovos em um rio japonês”. Referindo-se ao fato de que sempre se considerou um “Salmão, que jamais esquece o lugar que nasce”. Em 1946 o governo japonês reconhece a contribuição de Kurosawa à cultura.


Talvez por tudo isso que se passou na vida do mestre, a morte esteja tão presente em todos os oito episódios que compões o filme “Sonhos”. O que se confirma com palavras do próprio diretor: “Não há nada que diga mais respeito de um criador do que sua própria obra”. Nessa obra Kurosawa também homenageia seu grande ídolo, o pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh, interpretado no filme pelo também cineasta Martin Scorsese (Táxi Driver, Touro Indomável), dedicando um dos episódios (Corvos) inteiramente a ele, episódio no qual, o personagem, alter ego de Kurosawa, caminha entre os dourados campos de trigo sob a sombra dos negros corvos pintados por Van Gogh. Dando-nos uma pequena amostra de um desejo, manifesto, porém irrealizado, filmar a biografia do pintor holandês.


Mas o que prende inteiramente nossa atenção durante as quase duas horas de projeção, é a belíssima fotografia dirigida por Kazutami Hara Saitô e Masaharu Ueda. Algumas cenas parecem verdadeiros quadros pintados à mão. Kurosawa explora muito os planos gerais e nos embriaga com tantas cenas belas. Não tem a menor pressa em nos mostrar as intempéries vividas por um grupo de homens exaustos à procura de seu acampamento no episódio “A Tempestade de Neve”. E se todo mundo fala tanto das famosas cores de Almodóvar (Fale com Ela, Tudo Sobre Minha Mãe), nesse filme eu ressalto as cores de Kurosawa, que tem uma linguagem prórpia e falam por si só, aliadas a igualmente bela trilha sonora dirigida por Shinichirô Ikebe, lembrando que o silêncio funciona muito bem como trilha sonora também. Quanta sensibilidade, pura arte em movimento. Kurosawa tentou a carreira de artista plástico, mas foi reprovado na Escola de Belas-Artes.

Salma Nogueira.