quinta-feira, 26 de maio de 2011

Stromboli


Ao final da II Guerra Mundial, Karin (Ingrid Bergman) está presa em um campo de concentração na Itália. Ela pretende fugir do local e buscar abrigo político na Argentina, mas o visto não é concedido e Karin decide se casar com o pescador Antonio (Mario Vitale), que a cortejava por trás do arame que separava o campo de concentração da "liberdade". Sem estar apaixonada por ele, o pescador leva Karin para morar na pequena ilha de Stromboli, ao norte da Itália. Lá, eles percebem como vai ser a vida a dois.

Stromboli é o lugar ideal para realizar um filme sobre prisão e solidão. O ritmo dos habitantes e a paisagem do local são dependentes da atividade do vulcão que entra em erupção constantemente. Os hábitos e o jeito das pessoas da ilha acabam deixando Karin se sentindo desconfortável. Como ela vem de um lugar distante e tem costumes de uma pessoa da cidade, a estrangeira acaba sendo julgada e é vítima de preconceito da população de Stromboli. As mulheres consideram Karin infiel e excluem a "novata" das atividades praticadas por elas.

A grande questão do filme é mostrar o cotidiano dessas pessoas e como Karin, mesmo longe do campo de concentração, ainda se sente presa, sem liberdade. Além de ter esse sentimento porque a ilha não oferece nenhum entretenimento ou distração, ela ainda é vítima dos comentários das mulheres de Stromboli que acabam contaminando a cabeça do marido.

Roberto Rossellini foi um dos grandes nomes do neo-realismo italiano. Ele fez parte de um grupo de cineastas que preferiu retratar a realidade, com poucos recursos, a realizar mega produções que não davam conta da realidade do pós-guerra. Stromboli pode não ter a mesma força que os outros filmes do diretor realizados no período, mas consegue transmitir ao espectador um pouco do sentimento da população que viveu essa época.

Um dos grandes pontos de "Stromboli" é a cena final. Rossellini preferiu deixar que o espectador reflita sobre o destino de Karin que revelar o que realmente aconteceu com a personagem. Os últimos minutos de filme, interpretados praticamente apenas por Ingrid Bergman, ficam na cabeça do espectador durante um bom tempo. "Stromboli" é um ótimo filme e é diferente dos demais que já abordaram o tema da prisão e da solidão. Nele o espectador também incorpora uma parcela do sentimento de quem viveu o período da guerra.


Ficha Técnica:

Stromboli (Stromboli, Terra di Dio)
Itália / Estados Unidos - 1949
Direção: Roberto Rossellini
Produção: Roberto Rossellini
Roteiro: Roberto Rossellini, Sergio Amidei, Art Cohn, Gian Paolo Callegari, Renzo Cesana
Fotografia: Otello Martelli
Trilha Sonora: Renzo Rossellini
Elenco: Ingrid Bergman, Mario Vitale, Renzo Cesana, Mario Sponzo, Gaetano Formularo, Angelo Molino
Duração: 102 minutos

sábado, 14 de maio de 2011

A Fita Branca

Origens e Razões do Mal

                             Mais do que uma parábola sobre a ascensão do regime nazista, A Fita Branca (Áustria, França, Alemanha, Itália, 2009) constitui um valioso estudo sobre as origens e razões do mal. Nesta toada, submissão e morte são elementos que permeiam a narrativa de ponta a ponta, afinal, o diretor Michael Haneke faz questão de mostrar que a opressão do homem pelo homem não se esgota enquanto produto de desigualdade sociais, visto que é dentro da própria casa, no seio da família que o oprimido se vinga contra a sujeição externa que lhe é imposta, daí violência doméstica e exercício abusivo do pátrio-poder serem assuntos cruciais no longa-metragem.
                      Crus e secos os filmes de Haneke não buscam servir de entretenimento nem dar respostas imediatas; no caso de A Fita Branca o cineasta, tal como experimentara antes em Caché (Áustria, França, Alemanha, Itália, 2005), não se preocupa em definir culpados para os crimes encenados – muito embora aponte sugestões nesse sentido – preferindo, por outro lado, centrar o foco sobre as razões para certas facetas do, não raro bestial, comportamento humano.
                            Esteticamente perfeita, a obra se vale, ainda, de um elenco primoroso – no qual se destacam, sobretudo, os atores-mirins escalados – bem como de uma fotografia amparada no vazio de planos abertos para determinar a densidade como elemento de similitude em um trabalho de forma e conteúdo tão privilegiados.

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)

COTAÇÃO: ۞۞۞۞۞

Ficha Técnica

Título Original: Das Weisse Band
Direção e Roteiro: Michael Haneke
Elenco: Janina Fautz (Erna)Gabriela Maria Schmeide (The Steward's Wife)Birgit Minichmayr (Frieda)Sebastian Hülk (Max) Nino Seide (Nino Seide) Hanus Polak Jr. (Detective) Sara Schivazappa (The Italian Nanny)Michael Kranz (The Home Teacher) Arndt Schwering-Sohnrey (Farmer)Anne-Kathrin Gummich (Eva's Mother)Theo Trebs (Ferdinand)Vincent Krüger (Fritz)Ernst Jacobi (The School Teacher (voice))Carmen-Maja Antoni (Bathing Midwife))Marisa Growaldt (The Maid)Florian Köhler (Farmer)Michael Schenk (Detective)Enno Trebs (Georg)Rainer Bock (The Doctor)Fion Mutert (Sigi)Ursina Lardi (The Baronin) Branko Samarovski (The Farmer)Eddy Grahl (Karli)Susanne Lothar (The Midwife)Christian Klischat (Gendarm)Kristina Kneppek (Else)Kai-Peter Malina (Karl)Detlev Buck (Eva's Father)Aaron Denkel (Kurti)Stephanie Amarell (Sophie))Ulrich Tukur (The Baron)Johanna Busse (Margarete)Levin Henning (Adolf)Leonard Proxauf (Martin)Maria-Victoria Dragus (Klara)Steffi Kühnert (The Pastor's Wife)Burghart Klaußner (The Pastor)Christian Friedel (The School Teacher)Leonie Benesch (Eva)Thibault Sérié (Gustav)
Fotografia: Christian Berger
Direção de Arte: Anja Muller
Figurino: Moidele Bickel
Edição: Monika Willi
Estreia no Brasil: 12 de Fevereiro de 2009
Duração: 144 minutos

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Alemanha, Ano Zero


Berlim, pós Segunda Guerra Mundial. Edmund tem 12 anos e tenta ajudar a família, vendendo objetos nas ruas. O pai do garoto está doente e não pode trabalhar, a irmã é acusada por todos de se prostituir para os soldados estrangeiros. Em meio ao cenário desesperador, Edmund se envolve com um grupo de jovens delinquentes, que o desamparam no momento em que ele mais precisa.

Apesar de se passar na Alemanha do pós-guerra, o filme está inserido no contexto do cinema italiano dos anos 40: o neo-realismo. Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti são os principais nomes do movimento que inspirou cineastas de todo o mundo - inclusive os cinemanovistas brasileiros. No neo-realismo, os diretores retratavam o sofrimento da sociedade européia que morava nas cidades devastadas pela Segunda Guerra Mundial. Eles exploravam todos os lados possíveis da tragédia: relações sociais, culturais, econômicas, de poder etc. O neo-realismo se propôs a revelar as mazelas deixadas pelas grandes potências da maneira mais verdadeira possível. Para isso, os diretores abriam mão dos caros cenários, dos famosos atores, dos sofisticados recurso de câmera da época e do perfeccionismo da edição. No lugar de todos esses recursos, eles utilizavam atores não-profissionais, filmagem em locação - ou seja, todas as cenas dos filmes eram feitas nas próprias ruas das cidades -, aproveitavam a luz natural do ambiente... A intenção era transmitir tudo da maneira mais real possível.

Em "Alemanha, Ano Zero" Rossellini não deixa passar nenhuma crítica ao nazismo. Todos os personagens são uma espécie de retrato da sociedade da época: o pai doente pelo cansaço que a vida lhe causou, a irmã é vista como prostituta porque de algum jeito precisava arranjar dinheiro para ajudar a sustentar a casa e Edmund é a criança que cresceu vendo o sofrimento da família e abrindo mão da juventude para ajudar nas tarefas de casa. Mas apesar de Edmund ser o personagem principal do filme, a figura do professor Sr. Enning é a mais crítica da estória. Ele é retratado pelo diretor como um pedófilo, de crenças nazistas, que se aproveita de Edmund para ganhar algum dinheiro. O modo como ele acaricia o aluno e a maneira como se mostra tão interessado nas atividades do garoto, fica claro que o interesse do professor não é só profissional. Quando Edmund percebe que seu pai não consegue melhorar da doença, resolve pedir ajuda ao "amigo" e professor, mas não adianta nada: Enning diz ao aluno, em um discurso extremamente nazista, que só os mais fortes conseguem sobreviver no período difícil em que estão vivendo.

O peso de viver em um Estado falido, sem o amparo da família, sem relações verdadeiras de afeto, levam Edmund a pensar em atitudes jamais imaginadas por uma criança de 12 anos. É incrível ver a maneira com que os diretores italianos pensavam nas tramas de seus filmes no período do neo-realismo. Enquanto o cinema americano filmava "A Noviça Rebelde" e "Dumbo", os cineastas europeus exploravam as consequências da Segunda Guerra sem fechar os olhos para a realidade e sem medo de mostrar aos espectadores de todo mundo, a dificuldade das sociedades que viviam assoladas pelas consequências da Guerra.

"Alemanha, Ano Zero" é um filme muito importante para o cinema. Ele fez parte de um movimento que inspirou várias gerações de cineastas e que propôs que o mundo voltasse os olhos para o que realmente estava acontecendo na Europa na metade dos anos 40.


Ficha Técnica:

Alemanha, Ano Zero (Germania Anno Zero)
Itália - 1948
Direção: Roberto Rossellini
Produção: Salvo D'Angelo, Alfredo Guarini e Roberto Rossellini
Roteiro: Roberto Rossellini, Carlo Lizzani e Max Kolpé
Fotografia: Robert Juillard
Trilha Sonora: Renzo Rossellini
Elenco: Edmund Moeschke, Ernest Pittchau, Ingetraud Hinze, Erich Gühne, Fanz-Otto Krüger
Duração: 78 minutos

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Taxi Driver

Um dos primeiros filmes sucesso da parceria Scorsese - De Niro foi lançado em 1976, mas até hoje nos surpreende pela crueza da violência apresentada nas telas; conta a história de Travis Bickel, ex-combatente na guerra do Vietnã, solitário e sofrendo de insônia, que vai em trajetória descendente em direção a loucura e paranóia com o mundo ao seu redor.

A construção do personagem é incrivelmente sutil, porém poderosa, nos faz realmente ver o mundo do modo como Travis vê; a direção e o uso de câmera ajudam bastante nessa impressão, ao mostrar a câmera como os olhos do personagem em vários momentos, principalmente nas tomadas ao ar livre, da cidade enfumaçada, da prostituição que infesta as ruas e mesmo quando procura por uma janela ou uma pessoa, um olhar. Através do excelente uso da câmera como personagem, somos convidados a ser mais um passageiro no táxi de Travis, ele próprio sendo, além de motorista, um passageiro.

A fotografia é predominantemente vermelha o que combina horrivelmente com uma das cenas finais, a mais violenta de todo o filme, e com o comportamento irrequieto de Travis, que apesar de calmo externamente é profundamente agitado, cheio de questionamentos.

O personagem que vê o mundo ao seu redor como sujo, imundo e problemático, começa a se ver, aos poucos, como uma espécie de guardião que deve lutar contra esta sujeira e imundice do mundo, começa ser armar e a se preparar para esta batalha que nem ele ao certo sabe contra quem.
Além do excelente roteiro e direção a atuação visceral de De Niro é crucial para que o personagem se torne este ser crível que poderia habitar em qualquer cidade grande de qualquer parte do mundo; em especial a famosa cena do “você está falando comigo, está falando comigo” e a cena em que Travis aparece com seu novo corte de cabelo moicano me dão arrepios... ele mergulha com tanta força e de forma tão absoluta em sua paranóia que chega a acredita, e nos faz acreditar, que é capaz de tudo.
 
Na cena em que encarna totalmente a sua “missão” e procura concretizá-la, somos agraciados com uma das cenas mais violentas e cruas que eu já vi; Scorsese parece nos preparar o filme inteiro para o banho de sangue que esta cena nos proporciona, sem a válvula de escape musical que Tarantino utiliza, somente o som do disparo das armas, dos passos, dos gritos, a tensão e o choque que esta cena nos faz sentir, não envelheceu muito mesmo depois de quase 40 anos do lançamento do filme.

 Samy Twist. 

 *Texto dedicado a Henrique Acácio.

O Destino do Poseidon



"O Destino do Poseidon" foi o filme que praticamente inaugurou a série de produções americanas sobre catástrofes. Depois dele vieram "Inferno na Torre" (1974), "O Dirigível Hidenburg" (1975), "Avalanche" (1978) e muitos outros. O mercado de cinema americano viu no medo das pessoas, uma imensa fonte de lucros e resolveu explorar ao máximo o imaginário da plateia. Os produtores também passaram a investir cada vez mais em tecnologia, para conferir uma realidade inquestionável aos filmes. Para se ter uma ideia, James Cameron utilizou algumas técnicas de "O Destino do Poseidon" em Titanic, mesmo a diferença de "idade" entre eles sendo de 25 anos.

O roteiro do filme não poderia ser mais simples: o Poseidon é atingido por uma onda gigantesca que vira o navio de cabeça para baixo. Na hora, milhares de passageiros morrem e os que conseguiram sobreviver ficaram trancados dentro do salão de festas. Uma parte da tripulação resolve esperar ajuda no local onde ficaram presos e uma pequena parte resolve procurar a saída do navio por conta própria. Eles são liderados pelo pastor Frank Scott (Gene Hackman) e vão enfrentar uma série de problemas para tentar escapar do Poseidon. Apesar da simplicidade, os roteiristasStirling Silliphant e Wendel Mayes conseguiram amarrar vários acontecimentos, dando concisão à trama e tornando o filme cada vez mais claustrofóbico. Quando o espectador acha que o grupo está livre dos problemas, chega mais uma série deles para incrementar a trama.

Logo no começo do filme, já é possível perceber o tamanho da produção de "O Destino do Poseidon": o navio é extremamente luxuoso, o elenco é enorme, com atores caros, o figurino é rico e há todo um cuidado com a ambientação do barco. Alguns dos atores mais famosos da época fizeram parte da produção: Gene Hackman e Shelley Winters, por exemplo. O problema é que um grande - e ótimo - elenco foi contratado, mas os roteiristas pecaram em um ponto: os personagens foram extremamente estereotipados. Existe o vilão, o heroi, a mocinha, a mulher conquistadora, as crianças, enfim... São grandes atores, mas nenhum com um grande papel.

"O Destino do Poseidon" não é um filme sensacional, que vai fazer com que o público pense. Talvez a importância dele seja mais histórica que pelo próprio filme em si; já que "O Destino do Poseidon" praticamente inaugurou uma nova fase no cinema americano e abriu os olhos dos estúdios para a importância do investimento em novas ferramentas tecnológicas para o cinema.



Ficha Técnica:

O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure)
Estados Unidos - 1972
Direção: Ronald Neame
Produção: Irwin Allen
Roteiro: Stirling Silliphant, Wendel Mayes
Fotografia: Harold E. Stine
Trilha Sonora: John Williams
Elenco: Ernest Borgine, Shelley Winters, Gene Hackman, Red Buttons, Carol Lynley, Roddy McDowall, Stella Stevens, Jan Arvan Arthur O'Connel, Leslie Nielsen, John Crawford, Jack Albertson, Pamela Sue Martin, Fred Sadoff, Charles Bateman, Eric Shea, Sheila Allen, Erik L. Nelson, Stuart Perry, Paul Stader
Duração: 117 minutos

domingo, 1 de maio de 2011

Alphaville

Noir Futurista

Alphaville (França, 1965) pode até não figurar como exemplo máximo do radicalismo quanto a linguagem adotado por Jean-Luc Godard em trabalhos posteriores como Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela (2 ou 3 choses Que Je Sais d'Elle, 1967)  e Prenome Carmen (Prénom Carmen, 1983); todavia, não há como contestar que o longa-metragem é uma inegável concretização do lema “tudo é possível” que embalava a Nouvelle Vague, visto que a obra nada mais é do que uma ficção científica encapsulada numa atmosfera noir (ou vice-versa!).
Além de atestar a originalidade do cineasta para driblar naturais restrições orçamentárias capazes de impedir a utilização de cenários e figurinos requintados, tal fusão de gêneros se mostra como grande trunfo da produção, uma vez que permite a interpretação da história da opressão estatal sobre o cidadão como uma visão tanto do presente quanto do futuro, ratificando, desse modo, o flerte do cinema com a literatura para além da adaptação do livro A Cidade da Dor de Paul Éluard, alcançando, ainda, dada a similitude de temas, autores como George Orwell e seu 1984, bem como Philip K. Dick e sua novela O Homem do Castelo Alto.
Embora a descontinuidade não marque tanta presença no longa-metragem – o que não deixa de ser um alento para quem repudia este cultuado elemento de transgressão do supracitado movimento cinematográfico francês – Godard, em contrapártida, lança mão de uma montagem dividida entre cortes secos e longos planos seqüências oriundos de virtuosos travellings – numa prova de que o cinema de guerrilha não necessariamente padece de falta de técnica.
Se Alphaville possui algum problema, este reside no fato de ser produto da filmografia de um diretor cujos trabalhos fomentam contextualizações e comparações entre si - dadas as diversas fases de experimentação vividas por Jean-Luc Godard. Neste sentido, o filme é encerrado por meio de uma conclusão cuja natureza atabalhoada, se por um lado pode ser encarada como “coisa de Nouvelle Vague”, por outro, destoa completamente da ótica cínica e pessimista com a qual o artista impregnou muitos de seus filmes, face seu viés romântico e esperançoso, daí o tom piegas do término surpreender de forma não necessariamente positiva.

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)

COTAÇÃO - ☼☼☼       

Ficha Técnica
Título Original: Alphaville, une Étrange Aventure de Lemmy Caution
Direção e Roteiro: Jean-Luc Godard, baseado em obra de Paul Éluard
Elenco: Akim Tamiroff (Henri Dickson)Anna Karina (Natacha Von Braun)Eddie Constantine (Lemmy Caution)
Duração: 99 minutos