Exercício de Sensibilidade
Durante expedição cartográfica sobre os vastos campos siberianos, oficial russo encontra em seu caminho Dersu Uzala, um senhor de idade avançada, morador da floresta, que irá, a partir de então, servir de guia para o capitão e seu grupo.
Com sua estatura diminuta, sua velhice e humildade Dersu suplanta toda a arrogância e ignorância dos homens da cidade por meio da força de seu conhecimento empírico e da nobreza de seu caráter, o que leva, em seguida, ao início de uma grande amizade entre ele e o chefe do destacamento militar.
Baseados, então, na confiança e respeito mútuos esses dois homens de origens e meios tão diversos enfrentarão e vencerão juntos os mais diversos obstáculos oriundos tanto de fenômenos da natureza quanto da ação humana. Porém, a aproximação da morte revelar-se-á como o inimigo mais difícil de ser combatido, ocasião em que prevalecerá uma vez mais o respeito à natureza, dessa vez humana, dado a chegada do momento em que cada um terá de seguir seu próprio caminho, ainda que isso signifique um adeus definitivo.
Inspirado nos diários de Vladimir Arseniev, o enredo de Dersu Uzala pode, a primeira vista, parecer um fiapo de história, mas nas mãos de Akira Kurosawa se transforma num poético olhar sobre a amizade e sobre o dever de subserviência do homem perante o meio ambiente.
Caminhando continuamente sobre os trilhos de temáticas que se harmonizam, o cineasta japonês apresenta sem qualquer pressa e por meio da utilização de diversos planos gerais toda a imponência da natureza perante a pequenez humana, bem como a solidez dos laços fraternais firmados pelos protagonistas, o que torna seu trabalho um belo exercício de sensibilidade.
Não fosse o bastante o primor de sua narrativa, o filme também merece ser necessariamente lembrado pela atuação de Maksin Munzuk que, na pele de Dersu, desaparece sem deixar à mostra qualquer vestígio de técnica, numa das raras vezes em que o ator deixa de interpretar para simplesmente ser e se confundir com o personagem.
Filmado em 1974, isto é, durante os espinhosos anos da Guerra Fria, Dersu Uzala é uma produção de naturalidade soviética, cuja literatura em que se baseia possui origem semelhante, o que não impediu a obra de ser laureada em todos os cantos do planeta e, principalmente, nos Estados Unidos onde foi saudada com o Oscar de melhor filme estrangeiro, o que – além de representar a reabilitação pessoal de seu diretor após a má recepção de seu filme anterior Dodeskáden – mostrou-se, ainda, como uma verdadeira transposição de barreiras políticas, graças a excelência da arte e do discurso do mestre Kurosawa.
Dario Façanha Neto (texto originalmente publicado em http://setimacritica.blogspot.com/)
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼
Ficha Técnica
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Akira Kurosawa, Yuri Nagibin
Elenco: Maksim Munzuk (Dersu Uzala) B. Khorulev, Sovetbek Dzhumadylov, M. Bychkov, Aleksandr Pyatkov (Olenin)Vladimir Kremena (Turtwigin)Suimenkul Chokmorov (Jan Bao)Dmitri Korshikov (Wowa)Svetlana Danilchenko (Mrs. Arseniev)Yuri Solomin (Captain Vladimir Arseniev)Nikolai Volkov
Duração: 141 minutos
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