sábado, 1 de maio de 2010

Dersu Uzala

Exercício de Sensibilidade

Durante expedição cartográfica sobre os vastos campos siberianos, oficial russo encontra em seu caminho Dersu Uzala, um senhor de idade avançada, morador da floresta, que irá, a partir de então, servir de guia para o capitão e seu grupo.
Com sua estatura diminuta, sua velhice e humildade Dersu suplanta toda a arrogância e ignorância dos homens da cidade por meio da força de seu conhecimento empírico e da nobreza de seu caráter, o que leva, em seguida, ao início de uma grande amizade entre ele e o chefe do destacamento militar.
Baseados, então, na confiança e respeito mútuos esses dois homens de origens e meios tão diversos enfrentarão e vencerão juntos os mais diversos obstáculos oriundos tanto de fenômenos da natureza quanto da ação humana. Porém, a aproximação da morte revelar-se-á como o inimigo mais difícil de ser combatido, ocasião em que prevalecerá uma vez mais o respeito à natureza, dessa vez humana, dado a chegada do momento em que cada um terá de seguir seu próprio caminho, ainda que isso signifique um adeus definitivo.
Inspirado nos diários de Vladimir Arseniev, o enredo de Dersu Uzala pode, a primeira vista, parecer um fiapo de história, mas nas mãos de Akira Kurosawa se transforma num poético olhar sobre a amizade e sobre o dever de subserviência do homem perante o meio ambiente.
Caminhando continuamente sobre os trilhos de temáticas que se harmonizam, o cineasta japonês apresenta sem qualquer pressa e por meio da utilização de diversos planos gerais toda a imponência da natureza perante a pequenez humana, bem como a solidez dos laços fraternais firmados pelos protagonistas, o que torna seu trabalho um belo exercício de sensibilidade.
Não fosse o bastante o primor de sua narrativa, o filme também merece ser necessariamente lembrado pela atuação de Maksin Munzuk que, na pele de Dersu, desaparece sem deixar à mostra qualquer vestígio de técnica, numa das raras vezes em que o ator deixa de interpretar para simplesmente ser e se confundir com o personagem.
Filmado em 1974, isto é, durante os espinhosos anos da Guerra Fria, Dersu Uzala é uma produção de naturalidade soviética, cuja literatura em que se baseia possui origem semelhante, o que não impediu a obra de ser laureada em todos os cantos do planeta e, principalmente, nos Estados Unidos onde foi saudada com o Oscar de melhor filme estrangeiro, o que – além de representar a reabilitação pessoal de seu diretor após a má recepção de seu filme anterior Dodeskáden – mostrou-se, ainda, como uma verdadeira transposição de barreiras políticas, graças a excelência da arte e do discurso do mestre Kurosawa.

Dario Façanha Neto (texto originalmente publicado em http://setimacritica.blogspot.com/)
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼

Ficha Técnica

Direção: Akira Kurosawa
Duração: 141 minutos

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