segunda-feira, 10 de maio de 2010

Deixa Ela Entrar

VAMPIRISMO E CINEMA SUECO ATACAM O CINEMA MORDERNO

let the ring on                   O cinema sueco tem marcado presença com suas produções mundo afora, e não só pelas influências de Ingmar Bergman, considerado pai do cinema existencialista, como também no quesito das produções independentes temos alguns nomes que nos últimos dez anos se consolidando no circuito audiovisual colocado a Suécia na rota das produções audiovisuais.

                   Filmes como, Funny Games (1997) que teve direito a uma refilmagem de produção americana intitulada Violência Gratuita (2007); Fucking Amäl (1998), traduzido para o português como Amigas de colégio que ganhou projeção por abordar uma relação amorosa entre duas estudantes, escrito e dirigido pelo até então iniciante, Lukas Modysson, e por fim o tocante Todas as coisas são belas (1995), fazem parte da safra do cinema moderno na Suécia.

                  Agora a projeção da vez é o filme de Tomas Alfredson, que conta a história de uma vampira de doze anos (Eli) recém-chegada no interior de Estolcomo, lugar no qual conhece Oskar, tímido garoto que mora no apartamento ao lado e sofre bulling dos colegas da escola. Os criam uma relação de proximidade e enquanto Eli ensina o garoto a se defender, ele a ensina o valor da amizade.

                  A primeira vista parece que a moda dos vampiros chegou à Suécia, entretanto, ao contrário do que possa parecer, “Deixa ela entrar” subverte os padrões clássicos do gênero e cria uma narrativa original com movimentos de câmera bem estruturados e personagens complexos.deixa ela entrar1               O drama ambientado nos anos 80 tem um ritmo narrativo peculiar, sem cortes bruscos. Todos os movimentos acompanham a velocidade do local, refletindo o ritmo de vida no pequeno interior, cercado por neve e com um clima de frio intenso. A atmosfera é lenta, longe do agito das grandes cidades e do fluxo intenso de pessoas.

               Entretanto o diretor não conta só com os artifícios de câmera, mas também com o trabalho dos atores iniciantes, Kåre Hedebrant (Oskar) e Lina Leandersson (Eli) que roubam a cena e conseguem trazer veracidade aos seus personagens. Em especial Lina Leandersson, que tem nas mãos o papel de uma vampira misteriosa com um passado longo e oculto, já que não fica claro como ela surgiu, e nem o que antecedeu sua chegada até ali.

             Outro aspecto bem sucedido na produção do longa é a fotografia cheia de segundos planos, desfoques e closes. Cada detalhe cuidadosamente elaborado para acompanhar a composição das cenas e criar o clima sombrio que compõe as seqüências. Detalhe muito bem utilizado não só pelo enriquecimento dos planos, como também, pela subjetividade expressa no roteiro.

             “Deixa ela entrar” torna-se interessante não só pelos seus aspectos técnicos, como também por abordar de forma incomum o tema do primeiro amor, traduzindo sentimentos e reflexões em olhares e pequenos gestos documentados por movimentos de câmera, sutilmente, montados pelo diretor.

              Tem-se então uma história complexa que mistura o fantástico e o humano de forma tocante e paradoxal, onde o simples e complexo se misturam. Complexo, pois a relação entre os dois se transforma em dependência, ligando os personagens de forma absoluta, onde se completam e necessitam um do outro, e ao mesmo tempo simples, pois ambos têm sentimentos e ações infantis como o frisson da primeira paixão, a lealdade e a amizade.

             Acompanhamos então, a trajetória de Eli e Oskar que lutam contra seus “demônios” para conseguir sobreviver aos seus medos e desejos. Inserido nesse contexto há o encontro com o sobrenatural; o choque entre o terror do submundo e a tênue mudança da infância para a pré-adolescência, tão real quanto qualquer outra fase da vida. Dois mundos que se chocam e se completam em meio ao caos, o amor e a morte.

            Tem-se então o cenário perfeito para um filme de terror, que muito bem dirigido por Tom Alfredson acaba seguindo outro rumo sem deixar de dar ao expectador leves pitadas de terror trash mas mantendo-se fiel à sua característica inicial que é construir um filme em que o drama do mundo real se mistura ao fantástico. Criando-se o equilíbrio exato e deixando uma mensagem que vai muito além da simples matança das clássicas histórias vampirescas.

             Por fim, “Deixa ela entrar” pode ser caracterizado como um bom filme que se destaca não só pelo roteiro original, como também pelo bom trabalho dos atores, dentre outros fatores pode-se dizer que o diretor acertou na dosagem dos elementos envolvidos. Agora é torcer para que cresça cada vez mais o número de produções nórdicas de qualidade no circuito.

COTAÇÃO ****

Natascha Silva.

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