sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sinédoque Nova York

Transição Nada Traumática


Em meio ao vazio de sua vida pessoal e profissional, diretor de teatro lança mão de patrocínio recebido para realizar seu primeiro trabalho autoral. Decidido a criar uma obra de cunho autobiográfico, o artista promove ensaios de uma peça sobre trechos diários de seu cotidiano, o que, somado a sua dificuldade de percepção temporal, acaba por resultar num infindável exercício de encenação cujas proporções gigantescas quanto ao número de cenários e de personagens, geram um espetáculo inacabado, mas plenamente hábil a se mesclar e até mesmo tomar o lugar da vida real de seu criador.

Sinédoque Nova York marca a estréia de Charlie Kaufman como diretor de cinema, numa transição nada traumática que se mostra deveras promissora; afinal:

· seu roteiro – à exemplo de enredos anteriores como os de Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças – traz as costumeiras esquisitices imaginadas pelo roteirista as quais, interessantes ou não, possuem o incontestável mérito de, por conta de sua essência experimental, se distinguir das estruturas tradicionais que baseiam quase todo o restante da produção cinematográfica;

· se por um lado o agora cineasta Charlie Kaufman – talvez por reconhecer sua inexperiência neste sentido – não precisou ter grandes preocupações com a condução do elenco, dado o uso de seu prestígio para a reunião de um invejável rol de atores – no qual se incluem Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Catherine Kenner, Emily Watson, Diane Wiest, Jennifer Jason Leigh e Michele Williams – por outro lado restou inconteste sua habilidade e apuro técnico no que tange a retratação visual de suas palavras.

Outrossim, tal como a peça teatral do filme se tornou mais importante que a própria vida de seu criador, é preciso de igual forma enfocar Sinédoque Nova York como um elemento maior do que a mera estréia profissional de seu diretor e, neste diapasão, a obra em comento se revela como um exercício de análise minucioso e cadenciado acerca das mentes de seus personagens, resultando, desse modo, num perspicaz instrumento de observação sobre a capacidade humana de visualizar, distinguir as razões da mediocridade e da mesquinharia que por vezes permeiam universos particulares, bem como sobre sua simultânea inaptidão e inércia para a tomada de atitudes que lhe retirem da letargia.

Um filme cujo caráter experimental se revela curioso tanto isolada quanto comparativamente as demais manifestações artísticas de seu genitor.


Dario Façanha Neto (texto originalmente publicado em http://setimacritica.blogspot.com/)


COTAÇÃO: ۞۞۞

Ficha Técnica

Título Original: Synecdoche, New York

Direção e Roteiro: Charlie Kaufman

Produtores: Anthony Bregman, Charlie Kaufman , Sidney Kimmel, Spike Jonze

Elenco: Philip Seymour Hoffman (Caden Cotard)Catherine Keener (Adele Lack)Samantha Morton (Hazel)Emily Watson (Tammy)Tom Noonan (Sammy Barnathan)Hope Davis (Madeleine Gravis)Jennifer Jason Leigh (Maria)Dianne Wiest (Ellen Bascomb/Millicent Weems)Deirdre O'Connell (Mrs. Bascomb)Michelle Williams (Claire Keen)Sadie Goldstein (Olive)

Estreia: 17 de Abril de 2009

Duração: 124 minutos

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