terça-feira, 15 de maio de 2012

Paraísos Artificiais


           Não Fosse Pelo Cacoete...

           É bastante perceptível o esforço de Marcos Prado em não exercer juízo de valor nem tornar caricata a realidade paralela regada a drogas ilícitas pela qual transitam os jovens de Paraísos Artificiais (Brasil, 2012). O êxito de tal empenho não impede, porém, que o diretor seja vencido por um cacoete típico do filme-documentário¹ - gênero, aliás, que revelou o cineasta -, qual seja a linguagem-diagnóstico.
           Dentro deste contexto, o longa-metragem sugere que os excessos da juventude não necessariamente tardam a ser pagos, premissa essa que infelizmente não tem seu potencial explorado em plenitude graças a distância estabelecida entre as realidades do diretor e dos seres retratados, o que, consequentemente, acaba influenciando na recepção do material filmado pelo espectador que, por sua vez, é mantido na condição de voyeur sem jamais ser estimulado a se tornar cúmplice dos protagonistas e/ou de seus estilos de vida².
           Essa relação de alteridade, vale dizer, é o que limita Paraísos Artificiais a condição de uma mera história bem contada. Neste aspecto, a narrativa garante a atenção do público em razão de uma eficiente edição não-linear que, na medida do possível, dificulta a descoberta precoce das informações necessárias a montagem do quebra-cabeça. Somem-se a isso os ótimos trabalhos de direção de arte e de fotografia que retratam com fidelidade o ambiente característico das festas rave, bem como a estonteante interpretação de Nathalia Dill que consegue a façanha de ameaçar o trono de Camila Pitanga (e seu Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios) no quesito atuação mais sexy do ano.
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1. Em sua fase modernista.
 
2. Exemplo contrário, neste sentido, pode ser visto em Mistérios e Paixões (David Cronenberg, Canadá, 1991).

Ficha Técnica
Direção: Marcos Prado  
Roteiro: Cristiano Gualda, Marcos Prado, Pablo Padilla
Produção:James D'Arcy, José Padilha, Lili Nogueira, Marcos Prado, Tereza Gonzalez
Elenco: Nathalia Dill (Érika)Luca Bianchi (Nando)César Cardadeiro (Lipe)Divana Brandão (Márcia)Cadu Fávero (Anderson)Erom Cordeiro (Carlão)Roney Villela (Mark)Lívia de Bueno (Lara)Bernardo Melo Barreto (Patrick)Emílio Orciollo Neto (Mouse)
Estreia: 4 de Maio de 2012
Duração: 96 min.
Curiosidade: O título do filme faz “referência ao livro homônimo de 1860 em que o poeta francês Charles Baudelaire descreve seus delírios sob efeito do ópio e do haxixe e advoga-os como meio para buscar um estado humano ideal” (FONTE: Revista Veja. Ed. 2268. Ano 45. N° 19. São Paulo: Abril, 09.05. 2012. p.163). 


 Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)

Um comentário:

  1. "Bacana" talvéz seja a palavra adequada pra este filme. Pra alguns, pode ser só um filme de rave. Pra mim menos foi um filme nacionais diferente como "2 Coelhos" e "Elvis e Madonna".

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