sábado, 19 de junho de 2010

Era Uma Vez em Tóquio

Minimalismo de Fachada

Se, por um lado, o modo de filmar de Yasujiro Ozu ficara consagrado - em considerável fração de sua filmografia e principalmente no exemplo de Era Uma Vez em Tóquio (Japão, 1953) – por um rigoroso minimalismo, em contrapartida, tal característica jamais poderá ser entendida como inferioridade quanto a qualidade e profundidade de sua obra.
Na hipótese do trabalho ora analisado, a aparente simplicidade da técnica de Ozu posiciona a câmera a um metro de distância do chão na maioria das cenas, captando, assim, de forma estática, diálogos densos entremeados por cortes secos. Com isso, o cineasta cumpre com louvor dois objetivos, quais sejam os de:
1. Valer-se de interpretações pouco corpóreas, centradas, na verdade, em olhares, o que, além de coadunar com a proposta estética, confere sensibilidade e dignidade à abordagem de temas cotidianos, embora complexos.
2. Direcionar a atenção da platéia para o enredo que se desdobra na tela e para a subjetividade das leituras permitidas; afinal, a história do casal de anciãos que faz uma última viagem para rever os filhos – muito embora seja contada com sobriedade suficiente para desviar-se de julgamentos banais sobre os personagens – não permite que o espectador saia incólume da experiência que Era Uma Vez em Tóquio representa, visto que os dramas familiares narrados se revelam como temáticas universais passíveis de ocorrer em qualquer lar, daí ser compreensível a angústia sentida por quem o assiste.
O longa-metragem, neste sentido, trata de falhas dos mais novos talvez fomentadas por erros passados dos mais velhos. Ozu não pretende fixar tais limites, mas sim demonstrar o quão egoístas somos, bem como o quão pouco nos empenhamos para com nossos papeis de pais e/ou de filhos.
Longe de qualquer otimismo ilusório, o cineasta não visualiza qualquer mudança de panorama, já que, conforme sua visão, o inconformismo juvenil perante o comportamento de seus antecessores cedo ou tarde é vencido por decepções trazidas pela vida, ocasião em que a resignação, imbuída de frustração, toma o lugar do primeiro, fazendo, desse modo, com que aceitemos, condescendentes, nossas reais naturezas.

Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼

Ficha Técnica
Título Original: Tokyo Monogatari
Direção: Yasujiro Ozu
Elenco: Chishu Ryu (Shukishi Hirayama)Toyoko Takahashi (vizinha) Teruko Nagaoka (Yone Hattori)Hisao Toake (Osamu Hattori)Shirô Osaka (Keiso Hirayama)Kyôko Kagawa (Kyoko Hirayama)Eijirô Tono (Sanpei Numata)Nobuo Nakamura (Kurazo Kaneko)Kuniko Miyake (Fumiko Hirayama)Sô Yamamura (Koichi Hirayama)Haruko Sugimura (Shige Kaneko)Setsuko Hara (Noriko Hirayama)Chieko Higashiyama (Tomi Hirayama)
Duração: 136 minutos
Grande Cena:
“- A vida não é decepcionante?
- Sim”.
Curiosidade: “Steven Spielberg pegou emprestado um recurso de Ozu para rodar o seu clássico E.T. – O Extraterrestre (1982). O longa é filmado com câmera baixa, para outros propósitos: traduzir na tela o ponto de vista da criança”. Fonte: Bravo! 100 Filmes Essenciais. 3ª Ed. São Paulo: Abril, 2009. p. 40.

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