O RESGATE DO SOLDADO JOEY
Não é de hoje que Hollywood rende-se aos encantos do mundo animal. Vale lembrar, pelo menos, de alguns bichinhos com halo de bondade que o cinema americano (re)criou e nessa leva de produções tivemos, por exemplo, “Bambi” (1942) dos estúdios Disney, “A Coragem de Lassie” (1946) de Fred Wilcox , “O Corcel Negro” (1979), de Carroll Ballard e também os mais recentes da simpática matilha que inclui Dálmatas, Beethoven e Marley. De qualquer forma, todos ganharam status de estrela e caíram no gosto do público.
“Cavalo de Guerra” (2011), de Steven Spielberg, não foge ao cânone animal de Hollywood, e ainda soma o bônus de trazer um animal como protagonista roubando as melhores sequências do filme. Quase um “ator” em cena, o cavalo Joey é bem dirigido graças ao impecável apuro técnico do midas Spielberg e sua equipe.
Ambientado na Inglaterra (mas nem por isso o filme deixa de ter um forte americanismo), durante o período da Primeira Guerra Mundial, retrata as desventuras do garoto Albert (Jeremy Irvine) que tem seu cavalo de estimação enviado aos campos de batalha e no caminho vai passando pelas mãos de vários donos, e sua saga para honrar o nome do pai e reaver o seu animal. E esta empreitada, todos nós, intuitivamente, sabemos como vai terminar. A narrativa vai soltando as pistas da previsibilidade para o espectador. A idéia central do filme é a força da amizade entre o garoto Albert Narracott e o equino que ele vê nascer no curral da fazenda - até então este primeiro momento de atmosfera bucólica e de paz ameaçada dará lugar ao cenário de horror e crueldade da guerra. Aliás, as sequências de combate entre ingleses e alemães são grandiosas e bem realizadas com a mesma qualidade – porém com menos sangue e vísceras! – que Spielberg dirigiu em seu “O Resgate do Soldado Ryan” (1998).
O cavalo milagroso é colocado num patamar elevado ao ponto de parar o confronto nas trincheiras para que os inimigos, juntos, numa breve trégua, pudessem livrá-lo da morte em meio à centenas de baixas. Parafraseando Umberto Eco, as batalhas do filme deram-se “nos bosques da ficção”, mas ainda assim causa um certo estranhamento a quem assiste a cena. E como numa fábula, o cavalo Joey passa incólume pela linha de tiro até encontrar seu destino final. Triunfalismo americano camuflado? Talvez.
“Cavalo de Guerra” é um daqueles filmes que cativam pela exuberância da fotografia e das sequências de batalha e comovem pelo conteúdo emotivo e pela bela trilha sonora. Olhos e coração são fundamentais para completar o filme na sua recepção. Por fim, é inevitável lembrar do clássico “...E o Vento Levou” (1939) nas cenas finais do filme. Automaticamente vem à mente o Tema de Tara que eternizou o filme de Victor Fleming em nossas retinas. Propositadamente ou não, uma bela homenagem ao cinema da era de ouro de Hollywood.
Elias Neves (texto originalmente publicado em http://www.eliasneves.blogspot.com)
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