segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Árvore da Vida

AINDA SOBRE “A ÁRVORE DA VIDA” OU... CADA MACACO NO SEU GALHO!

 
O significado da palavra grega  pathos como paixão, excesso, catástrofe, sofrimento, passagem, assujeitamento,  parece ser a tônica dominante  na narrativa  e/ou  talvez seja a essência do filme  de Terrence Malick “A Árvore da Vida” (EUA, 2011). Aqui o termo pode adquirir uma amplitude de sentido e possibilita impressões várias  ao longo do filme.  Longe de ser catequético ou de impor  um ideal religioso - apesar de seu tom espiritualista e metafísico, - percebe-se a  sutileza de Mallick em alcançar ou corresponder a todos os olhares possíveis sejam eles  criacionistas, evolucionistas, humanistas, teológicos, filosóficos, agnósticos e até estéticos. A árvore de Mallick parece ter galho para todos os sapiens sapiens sem distinção.

De onde viemos e para onde vamos? Os deslumbrantes planos sobre a origem do universo e da criação das espécies traduzem essa força de potência e  assenhoramento do tempo através do ciclo ad infinitum da vida (empregando aqui um bom filosofês  dos pensadores).  A filosofia tem se ocupado destas questões e o cinema também. A árvore de Malick é um pretexto para esta discussão. Ademais, a tumultuada relação entre pai e filho é o ponto de tensão e ressoa por todo o núcleo familiar ao mesmo tempo que a  figura da mãe é a ponte que traduz o perdão, a graça e o amor – a equação colocada à prova no filme. A tão discutida sequência do big bang pode ser um simples capricho estético de Mallick – que aliás é muito bem-vindo, mas também impressiona quanto representação da mobilidade da vida. 

 
A  grandiloquência da fotografia em harmonia com a trilha sonora  é um dos pontos altos do filme e suaviza o peso que é observar o dilema  da personagem do pai que busca alcançar o melhor através das boas obras, mas Mr. O’Brien (Brad Pitt) chega à conclusão de que fracassou a vida inteira e  não alcançou altas posições. Só considerava seu maior feito a família. A citação do Livro de Jó “Onde estavas tu quando Eu lançava os fundamentos da terra?” no início do filme é pertinente e tem-se a impressão que Mr. O’Brien é um Jó revisitado que, submerso em conflitos, busca entender os porquês de estar fazendo o bem e não ser recompensado à altura. A idéia de passividade e sofrimento em meio às vicissitudes da vida é reforçado.
A sequência do encontro na praia extrapola o tempo e o espaço incorporando um  topos reconhecido somente por cada um de nós em  nosso imaginário espiritual ou onírico. Poesia e discurso se mesclam nesta cena carregada de emoção sem  qualquer traço de pieguismo, cumprindo singularmente uma  catarse que também é papel da arte, no caso a do cinema.
                                                                                      
Os comos e  porquês de uma típica família estadunidense dos  anos  50 que  passa por dilemas pessoais, conquistas, perdas e faz reflexões sobre a existência pode ser  considerado um tema universal. Assistir ao filme de Malick é  desafiador pois talvez provoque em nós sentimentos e questionamentos que adiamos ou simplesmente tememos confrontar. A perda por meio da morte talvez seja o mais desconfortável dentre os assuntos  tratados ao longo do filme
A Árvore de Terrence Malick  não se esgota e rende muito assunto.Sempre  será uma obra que divide opiniões e suscita outros tantos conceitos e pré-conceitos que suas imagens provocam na visão de cada espectador que  se propõe a ver o filme  por  inteiro.
Sim, assistir por inteiro sem abandonar a sala de cinema antes dos primeiros trinta minutos iniciais de projeção – aliás, fato este visivelmente constatado durante as sessões em que  estive presente. Possivelmente, alguém achou que tratava-se de mais um filme com o galã hollywoodiano Brad Pitt no elenco principal.
Eu adorei o filme, outros detestaram! Mais uma vez, cada macaco no seu galho, como diz o ditado!

Elias Neves (texto originalmente publicado em http://www.eliasneves.blogspot.com)

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