sexta-feira, 10 de junho de 2011

Copacabana/Sem Pé Nem Cabeça

Isabelle Huppert em Copacabana, Sem Pé Nem Cabeça!!!

 

Na  minha humilde  opinião, considero Isabelle Huppert talvez  a melhor atriz do cinema francês da atualidade (pelo menos das que eu conheço atuando no cinema francófono), pois ela  ainda consegue surpreender-me em suas atuações  geniais. Desde que a vi pela primeira vez em “MADAME  BOVARY” de 1991, e “MULHERES DIABÓLICAS” (La Céremonie, 1995) ambos de Claude Chabrol, e o instigante “A PROFESSORA DE PIANO” (La Pianiste, 2001) de Michael Haneke,  qualquer  filme que tivesse  Isabelle Huppert  no elenco  - fosse como protagonista ou coadjuvante  -  já chamava atenção e era sinônimo de bom filme.
Na  Mostra deste ano  ela aparece em duas produções francesas (sensacionais pra variar!), “COPACABANA” e “SEM PÉ NEM CABEÇA”, o primeiro uma comédia  e o segundo um drama.
No comédia - com pitadas de drama - ela é Babou, uma mulher cinqüentona e divorciada que vive a vida livre de qualquer convenção  ou  regra social e que está  momentaneamente  desempregada. Seu estilo de vida transgressor e criativo gerou uma relação de conflitos  e  indiferença com a filha Esméralda (Lolita Chammah) que decide casar-se e não convida  a mãe por vergonha. A partir de então, Babou decide sair em busca de mudanças para tentar reconciliação com a filha. Ela aceita o desafio de trabalhar numa espécie de resort em um  balneário na Bélgica para ganhar dinheiro, refazer sua vida, conquistar  o respeito da filha e concretizar o sonho de viajar para o Rio de Janeiro, em especial Copacabana.
Babou é a personificação da liberdade e carrega consigo todas as qualidades, virtudes e defeitos de um ser humano. É o tipo de personagem que reúne tantos elementos, tantas facetas que é inevitável não nos identificarmos com pelo menos um deles ou todos! É uma personagem humana ao extremo, apesar de suas idiossincrasias. Daí a dificuldade de uma relação estável no âmbito social ou afetivo e até familiar. Portanto, o enfoque do filme está nesta difícil relação entre mãe e filha que vai se harmonizando à medida que Babou consegue primeiro ‘’arrumar a sua própria casa  para depois arrumar a dos outros”.
O roteiro é pródigo em mostrar situações de conflitos nas relações interpessoais e o aprendizado de Babou e,  por tabela, nosso também,  chega a soluções surpreendentes.
Com uma estrutura que  pode, à primeira vista, lembrar uma comédia ao estilo comum e previsível do cinema americano, “COPACABANA” tem o diferencial no modo como trata do delicado tema do desmembramento da  família que pode ocorrer tanto pela  formação de outros núcleos, como pela morte ou outras vias naturais.
Texto inteligente, equilíbrio entre drama e comédia, um humor refinado, mas nem por isso difícil de entender,  “COPACABANA” ainda conta com um trilha sonora recheada de música brasileira principalmente bossa nova.
No drama - com pitadas de comédia – ela é Alice Bergerac, uma mulher culta formada em Artes que  largou o magistério e passa a  ganhar a vida como prostituta de luxo atendendo aos mais  diversos tipos de clientes que por sua vez manifestam o desejo de realizar as mais inimagináveis fantasias.  Até que um dia Alice confronta-se com seus medos e incertezas depois de um cliente ameaçá-la. Ela decide procurar um psicólogo.
O filme mostra duas personagens que estão à deriva e frustrados com a vida que levam. O psicólogo Xavier Demestre (Bouli Lanners) é a demonstração maior da aflição e desespero diante da falta de respostas e incapacidade em tratar de assuntos da alma - dos quais ele deveria estar apto a responder e indicar caminhos. Esta situação pontua como o  maior paradoxo do filme, despertando em nós medos e dúvidas sobre a figura deste profissional.  A cena em que a prostituta Alice passa de profissional do sexo para a posição de terapeuta do terapeuta é de despertar risos nervosos,  pois sinaliza que os conflitos pessoais e as questões da alma não respeitam  nem  mesmo quem leu ou conhece toda obra de Freud, Jung et alli.
As personagens desta história convergem numa teia invisível de cooperação que chega a ser  praticamente uma terapia de grupo às avessas, pois os principais personagens se ajudam sem saber.
Estes dois filmes são, por assim dizer, grandes ensaios sobre as relações humanas com a impecável  atuação de Isabelle Huppert.

"COPACABANA" (Idem) França - 2010  Direção: Marc Fitoussi

"SEM PÉ NEM CABEÇA" (Sans Queue ni Tête) frança - 2010  Direção: Jeanne Labrune

Elias Neves (texto originalmente publicado em http://www.eliasneves.blogspot.com)

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