quinta-feira, 5 de maio de 2011

Taxi Driver

Um dos primeiros filmes sucesso da parceria Scorsese - De Niro foi lançado em 1976, mas até hoje nos surpreende pela crueza da violência apresentada nas telas; conta a história de Travis Bickel, ex-combatente na guerra do Vietnã, solitário e sofrendo de insônia, que vai em trajetória descendente em direção a loucura e paranóia com o mundo ao seu redor.

A construção do personagem é incrivelmente sutil, porém poderosa, nos faz realmente ver o mundo do modo como Travis vê; a direção e o uso de câmera ajudam bastante nessa impressão, ao mostrar a câmera como os olhos do personagem em vários momentos, principalmente nas tomadas ao ar livre, da cidade enfumaçada, da prostituição que infesta as ruas e mesmo quando procura por uma janela ou uma pessoa, um olhar. Através do excelente uso da câmera como personagem, somos convidados a ser mais um passageiro no táxi de Travis, ele próprio sendo, além de motorista, um passageiro.

A fotografia é predominantemente vermelha o que combina horrivelmente com uma das cenas finais, a mais violenta de todo o filme, e com o comportamento irrequieto de Travis, que apesar de calmo externamente é profundamente agitado, cheio de questionamentos.

O personagem que vê o mundo ao seu redor como sujo, imundo e problemático, começa a se ver, aos poucos, como uma espécie de guardião que deve lutar contra esta sujeira e imundice do mundo, começa ser armar e a se preparar para esta batalha que nem ele ao certo sabe contra quem.
Além do excelente roteiro e direção a atuação visceral de De Niro é crucial para que o personagem se torne este ser crível que poderia habitar em qualquer cidade grande de qualquer parte do mundo; em especial a famosa cena do “você está falando comigo, está falando comigo” e a cena em que Travis aparece com seu novo corte de cabelo moicano me dão arrepios... ele mergulha com tanta força e de forma tão absoluta em sua paranóia que chega a acredita, e nos faz acreditar, que é capaz de tudo.
 
Na cena em que encarna totalmente a sua “missão” e procura concretizá-la, somos agraciados com uma das cenas mais violentas e cruas que eu já vi; Scorsese parece nos preparar o filme inteiro para o banho de sangue que esta cena nos proporciona, sem a válvula de escape musical que Tarantino utiliza, somente o som do disparo das armas, dos passos, dos gritos, a tensão e o choque que esta cena nos faz sentir, não envelheceu muito mesmo depois de quase 40 anos do lançamento do filme.

 Samy Twist. 

 *Texto dedicado a Henrique Acácio.

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