terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Volver

   A morte sempre é um assunto largamente abordado na obra do cineasta espanhol  Pedro Almodóvar, mas ele nunca a tratou de maneira tão sensível e delicada como em “Volver” um filme de 2006. A morte sempre dá diferentes resoluções e tem diferentes propósitos na obra de Almodóvar, comparando um de seus primeiros longa metragens “Matador” de 1986, que nos conta a história de um toureiro precocemente aposentado, Diego Montes (Nacho Martínez) e uma advogada, María Cardenal (Assumpta Serna), na qual ambos sentem um estranho prazer sexual na morte. E seu último filme produzido até então, “Abraços Partidos” de 2009, que conta a história de Mateo Blanco (Lluís Homar) que perdeu simultaneamente a visão e sua grande paixão  em um acidente de carro. Passando ainda por obras maravilhosas como “Tudo Sobre Minha Mãe”(1999), “Fale Com Ela”(2002) e “Má Educação”(2004) que utilizam a morte de maneira significativa, dando novos destinos a vida dos personagens.
   Profundo admirador do universo feminino, Almodóvar sempre nos coloca diante de mulheres extremamente fortes e independentes. Sempre buscando meios de homenagear as mulheres em seus filmes, afirmando que sem elas, suas obras não existiriam, admitindo ainda que sua vocação é ser o primeiro espectador delas. Em “Má Educação” ele faz isso, por meio das personagens homossexuais, que travestidos de mulher, expressão seu eu feminino reprimido. Isso, sem falar das famosas cores de Almodóvar presentes desde a cenografia, às vestes e maquiagens das personagens, definindo personalidades distintas e individualmente fortes.
      Em “Volver” não é diferente, e o elenco é inteiramente feminino, sendo que um dos poucos homens que aparecem na história, morre logo no início do filme, mostrando-se totalmente descartável para o desenvolvimento da obra em questão. É o marido de Raimunda (Penélope Cruz), uma jovem mãe que exerce vários trabalhos para sustentar a casa, o marido bêbado e desempregado e a filha adolescente. Raimundo é a irmã mais nova de Sole (Lola Dueñas), uma mulher que vive sozinha desde que o marido a abandonou para fugir com uma das clientes do salão de beleza ilegal que Sole mantém em casa. Ambas são filhas de Irene (Carmen Maura), a qual acreditam estar morta. Há ainda, Agustina (Blanca Portillo) prima de Raimunda e Sole, a qual busca notícias do paradeiro da mãe desaparecida.
   Com um roteiro brilhante do próprio Almodóvar, ele nos mostra que a morte pode sim dar caminhos inesperados a vidas talvez desinteressantes. “Volver” desenvolve o que Almodóvar faz de melhor, nos mostrar dias extraordinários, no cotidiano de mulheres totalmente possíveis. Abusando da sensualidade e do poder que suas atrizes têm de conquistar o público, Almodóvar nos emociona mais uma vez, com uma história cruel, como várias que ele imortalizou, mas que certamente poderiam ser reais.
    

Salma Nogueira.

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