O Novo Soco no Estômago de Darren Aronofsky
Poucos são os profissionais que conseguem repetir o auge, o momento máximo de uma carreira; no cinema Darren Aronofsky é um deles, pois através de Cisne Negro (EUA, 2010) o cineasta consegue alcançar excelência semelhante a de sua, até então, obra máxima Réquiem Para um Sonho (EUA, 2000).
Ampliando a carga dramática do conceito narrativo abordado em O Lutador (EUA, 2008) Aronofsky, com estupenda eficiência, explora em Cisne Negro novos caminhos em torno da idéia de superação que volta e meia se transforma em obsessão para alguns. Munido de uma câmera intrusa e trepidante, o diretor arremessa o espectador para dentro do filme a fim de, assim, tornar a experiência cinematográfica tão inquietante quanto a jornada da protagonista.
Neste sentido, o roteiro lança mão de personagens radicais em sua essência, quais sejam: a bailarina compulsivamente comprometida com a perfeição - e que lida de maneira titubeante com o lado negro de sua persona -, a mãe opressora que transfere para a filha a necessidade de satisfação de suas frustrações profissionais, a estrela do passado que não admite ser substituída, a bailarina concorrente que ignora qualquer senso ético em prol de seus interesses e o diretor do balé que sem cerimônia cobra favores sexuais das garotas por ele regidas.
Tantas peculiaridades do enredo, por óbvio, dependeriam sobremaneira de intérpretes habilidosos o bastante para suportar tamanha carga dramática, o que é facilmente garantido por meio de um elenco escolhido a dedo, daí porque cada ator/atriz encaixa-se com precisão às pretensões da trama. Dentro deste contexto, merecem destaque as presenças de uma irreconhecível Winona Ryder, de Mila Kunis e Vincent Cassel exalando sexualidade e, logicamente, de Natalie Portman que graças a brilhante performance de uma mulher psicologicamente oscilante confirma em definitivo a grandeza de seu talento.
A qualidade de todos esses elementos, vale dizer, permite que Cisne Negro transite sem dificuldades entre o drama e o terror psicológicos, aspecto esse no qual a tensão serve de constante instrumento de manipulação – no melhor sentido do termo – do público que, não raro, sente o sangue gelar ao longo da projeção.
Por fim, o que mais dizer de uma obra capaz de deixar-nos estupefato com tamanhas beleza e eficácia? Nada além de: assista!
COTAÇÃO – ۞۞۞۞۞
Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
Ficha Técnica
Título Original: Black Swan
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Andres Heinz, John J. McLaughlin, Mark Heyman
Produção: Arnold Messer, Brian Oliver, Mike Medavoy, Scott Franklin
Elenco: Vincent Cassel (Korolyevna)Toby Hemingway (Tom)Janet Montgomery (Madeline)Patrick HeusingerBeth Laufer (Ballet Benefactor)Mark MargolisWinona Ryder (Beth)Kurt Froman ('Prince' Understudy)Natalie Portman (Nina)Matthew Nadu (Shirtless Club Dancer)Ksenia Solo (Veronica)Tim Lacatena (Ballet Dancer)Sebastian StanKristina Anapau (Galina)Mila Kunis (Lilly)Barbara Hershey (Erica Sayers)
Estreia no Brasil: 4 de Fevereiro de 2011
Duração: 107 minutos
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