Um fazendeiro viúvo, muito religioso, tem três filhos. O mais velho é ateu; o do meio foi estudar para ser padre, mas após várias crises ele acredita que é o próprio Jesus Cristo e o mais novo quer se casar com a filha do alfaiate da cidade. O único problema é que ela é outra religião. Tudo poderia ser simples, mas a maneira de filmar de Dryer e os assuntos abordados no filme mudam todo o significado da obra.
A Palavra pode ser acusado de ter envelhecido em alguns aspectos, porém, eles se tornam detalhes dentro do contexto e da exploração do tema: religião. É irônico um pai super religioso, desejar que um dos filhos siga a carreira da igreja e, de uma hora pra outra, ele acredita que é Jesus Cristo e o pai não fica "satisfeito" com o que aconteceu. As personagens de A Palavra são todas secas e frias; chega até a ser incômodo imaginar que aquelas pessoas tão distantes sejam parentes. Com exceção de Ingrid, mulher do filho mais velho, que pode ser encarada como o elo entre todos os personagens. Ingrid carrega toda a família nas costas.
Mas é preciso que o espectador esteja preparado para assistir a esse filme. Por vários momentos Carl Dryer chegou a ser reverenciado por críticos e ao mesmo tempo ser acusado de tedioso. É verdade que A Palavra segue um ritmo lento, desalecerado, quase parado... O espectador deve comprar a ideia do diretor, se quiser entender a mensagem principal do filme. A Palavra não é um filme que diverte, mas ele faz pensar em temas bastante polêmicos e muito atuais.
A verdade é que a maioria dos críticos ficam divididos em dois momentos quando vão julgar o filme: analisar a beleza, a estética da obra ou pensar o filme como entretenimento? Se pensarmos pela primeira perspectiva, A Palavra é impecável. Se analisarmos pela segunda, o filme torna-se torturante (mas com algum envolvimento). A Palavra tem uma das fotografias mais belas da história do cinema: os tons de preto e branco, o posicionamento da câmera, a movimentação dos personagens em cena... É com certeza uma referência no assunto. Já pelo ângulo do entretenimento, é muito difícil assistir A Palavra sem sentir uma pontada de tédio, de vontade que tudo se resolva. Mas em alguns desses momentos, principalmente quando o filme vai se encaminhando pro final, torna-se obrigatório insistir e ver o ápice da obra.
Se uma palavra pudesse definir o filme seria: densidade. Qualquer aspecto levantado pelo diretor, é passível de várias interpretações e de análises muito ricas. A religião ou a falta dela, o misticismo, a vida após a morte, os costumes, a instituição família. São muitos pontos interessantes para prestar atenção e discutir. Mas a verdade é que é preciso estar disposto para assistir A Palavra. O filme é tedioso e permite divagações, mas está classificado entre aqueles filmes em que o melhor é o depois, quando todas as questões levantadas se organizam e o espectador fica um bom tempo tentando digerí-las.
Ficha Técnica:
A Palavra (Ordet)
Dinamarca - 1955
Direção: Carl Theodor Dryer
Produção: Carl Theodor Dryer, Erik Nielsen, Tage Nielsen
Fotografia: Henning Bendtsen
Roteiro: Kaj Munk (autor da peça em que o filme é baseado)
Trilha Sonora: Poul Schierbeck
Elenco: Hanne Agensen, Kirsten Andreasen, Sylvia Eckhausen, Birgitte Federspiel, Ejner Federspiel, Emil Hass Christensen, Cay Kristiansen, Preben Ledorff Rye
Duração: 126 minutos
Carolina Klautau
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