quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Turba






"O mundo irá falar deste menino": esta foi a primeira frase que o pai de John Sims (James Murray) disse quando ele nasceu. E é exatamente sobre isso que A Turba trata: a busca pelo reconhecimento, pelo crescimento na vida profissional e social; King Vidor vai mostrar se John Sims vai ou não se tornar um homem histórico. Recém chegado a Nova York, John Sims é apenas mais um na multidão da cidade e mais um em busca de alcançar um futuro brilhante. Após algum tempo em Nova York, John se casa com Mary (Eleanor Boardman). O marido não ganha muito no escritório onde trabalha, mas garante à Mary que "o amanhã será brilhante". Vários anos depois, John continua com a mesma premissa e a família não vê nada melhorando. 

A Turba poderia caminhar para dois lados distintos: poderia abordar com muita ênfase a questão da massa: John Sims é mais um tentando conquistar um futuro satisfatório, sustentar a família e viver dignamente. Ou poderia abordar o lado romântico: o casamento, que seria uma fuga, se transforma em mais uma responsabilidade para o personagem. King Vidor conseguiu abordar dois temas muito atuais de maneiras iguais: em alguns momento a questão da turba, da multidão merece destaque, já em outros, o diretor aborda a questão do matrimônio e suas implicações. Além da abordagem, King Vidor conseguiu feitos imensos na questão técnica do filme. 


O diretor transforma os altos arranha-céus de Nova York, em extensas salas de escritórios, em que todos estão alienados e fazem a mesma coisa todos os dias, sem nenhum senso crítico; talvez em meio àquelas tantas pessoas, várias teriam a mesma vontade de John Sims, crescer na vida e acreditar no "american way of life". Essa questão de abordar o capitalismo e o modelo americano foi muito pertinente à época: os Estados Unidos mergulhavam na maior crise econômica de todos os tempos. A sociedade, o estado, tudo estava arrasado. E A Turba mostra isso me maneira muito poética: o filme estabelece um contraponto entre os altos prédios e o desemprego; entre a tristeza dos empresários que perdiam tudo e o descontentamento daqueles que nunca tiveram nada. Apesar de ter sido filmado em 1928, o filme continua muito atual em todos os aspectos. 

A Turba é um dos melhores filmes mudos já realizados. A técnica do diretor, o roteiro, a abordagem sobre os aspectos econômicos e matrimôniais, a sabedoria em explorar um período tão difícil para uma nação, fez de A Turba um filme obrigatório. Mais obrigatório ainda, por não se deixar levar pela emoção do momento. E por ser um filme muito pé no chão; o que difere da maioria das produções da época. 

Ficha Técnica: 

A Turba (The Crowd) 
Estados Unidos - 1928 
Direção: King Vidor 
Produção: Irving Thalberg 
Fotografia: Henry Sharp 
Roteiro: John A. Weaver 
Trilha Sonora: Carl Davis 
Elenco: Eleanor Boardman, James Murray, Bert Roach, Estelle Clark, Daniel G. Tomlinson, Dell Henderson, Lucy Beaumont, Freddie Burke Frederick, Alice Mildred Puter 
Duração: 98 minutos

            Carolina Klautau

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