quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Em um Mundo Melhor

WHAT A WONDERFUL WORLD!


Há um certo tempo atrás, seria impensável ver noticiado que um homem mantinha presa no sótão de sua casa a própria filha, a quem ele violentou  por anos seguidos e  com quem teve filhos. Do mesmo modo seria inimaginável que um rapaz aparentemente normal saísse  atirando deliberadamente contra pessoas  deixando um rastro de morte. Mais inaceitável ainda  que  pessoas de diferentes grupos étnicos  ou religiosos fossem hostilizados ou assassinados por grupos radicais xenófobos de extrema direita. O que existe em comum entre estes fatos? Boa parte destas notícias  vem da Europa, o tão civilizado velho mundo.


“Em um Mundo Melhor” (Dinamarca/Suécia, 2010) da cineasta Suzanne Bier,  o tema sobre a intolerância e a violência é tratado com uma amplitude mais abrangente pois toca no senso de justiça e ética de cada um de nós independente do mundo - seja primeiro ou terceiro - ao qual pertencemos. A nomenclatura econômica dos mundos pode ser apenas  uma mera convenção político-social, mas sob as  lentes  de Suzanne Bier o mundo é  um só e o que  pesa é o caráter e a atitude de cada ser humano na construção do mundo ideal. Para o personagem central, o médico Anton (Mikael Persbrandt), não é o antagonismo entre os mundos que determina o sucesso ou a falência do mundo, mas a postura diante do caos que humanidade enfrenta quando o assunto é a guerra, a fome, a miséria, a doença e a violência.


 
Anton desempenha um papel quase  quixotesco ao tentar mostrar um mundo melhor  para a sua família, para o garoto Christian (Willian Nielsen) e para as vítimas  das  atrocidades nos  campos  de refugiados. Ele tenta  salvar o resto do mundo e o seu próprio que  está  ruindo.  Seu personagem é o único que incursiona por todos os  espaços com a difícil missão de  dizer que o mundo  melhor depende de cada um. E nesse movimento, a câmera de Suzanne passeia por territórios distintos. Transita pela miséria humana e social crônica do continente africano nos campos de refugiados e retorna ao aparentemente organizado e desenvolvido primeiro mundo da Dinamarca.

 
É nesse contraste  entre dois  espaços cruelmente distintos que percebemos o quanto nos  igualamos  como raça humana tanto para o bem quanto para  o mal. Enquanto na  África os grupos terroristas agem com a barbárie, no primeiro mundo os garotos pesquisam na internet e fabricam seus  artefatos hightech de destruição. O  que muda é  apenas  o modus operandi  mas o terror tem o mesmo efeito devastador.Vale lembrar que o apelo por um mundo  melhor vem de um cinema dinamarquês, de um país com um dos maiores IDH do planeta.
Com um elenco infantil impecável e bem dirigido, e uma  fotografia brilhante, Suzanne Bier não pretende ser pedagógica em confrontar os  dois mundos, nem tampouco peca pelo excesso de emoção na conclusão dos  dramas pessoais. Seu filme  leva-nos sim, a fazer um exame de consciência e apenas ratifica a idéia de que  um mundo possível e melhor só depende da atitude de cada um.

“Em um Mundo Melhor” conquistou o Oscar de melhor  filme estrangeiro em 2011 e foi considerado um dos  melhores filmes  do ano pela ACCPA.
 
 
Elias Neves (texto originalmente publicado em http://www.eliasneves.blogspot.com)

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