Em “A Dama no Lago” (Lady in the Lake) um filme noir de 1947, o diretor Robert Montgomery (Do Lodo Brotou Uma Flor; O Amanhecer da Glória; Nascida Para Amar) ousou e obteve sucesso. Talvez não como gostaria, pois o filme não obteve sucesso de público na época de seu lançamento, porém, seja de maneira positiva ou negativa, o filme nunca deixa de ser citado, no que diz respeito ao seu estilo narrativo, que foi inegavelmente inovador.
Robert Montgomery inovou ao contar a história do detetive Phillip Marlowe (interpretado pelo próprio Robert Montgomery), um detetive particular contratado pelo editor Darece Kigsby (Leon Ames) para encontrar sua esposa, a qual um mês antes, enviou-lhe um telegrama, dizendo que estava indo ao México casar-se com um homem chamado Chris Lavery (Dick Simmons), porém tendo sido visto recentemente pelo próprio Kigsby em Hollywood, Lavery demonstra desconhecer a viagem ao México. Marlowe então inicia sua investigação na casa de campo da família ao lado de um lago.
Baseado no livro de Raymond Chandler, a investigação de Marlowe, de um caso aparentemente corriqueiro, complica-se bastante quando várias pessoas, relacionadas ao caso, começam a ser assassinadas. Mas a inovação cinematográfica da obra, veio no tipo de narração escolhido por Montgomery, que coloca a câmera, a qual representa a visão do detetive Marlowe, como um personagem fundamental na trama. E nos permite ir descobrindo junto cm o detetive todos os mistérios iniciados a partir de sua investigação. O que permite que o espectador interaja de certa forma com a trama desenvolvida, o que por outro lado também a deixa um tanto quanto lenta, mas de maneira alguma entediante, afinal de contas, trata-se de um filme noir.
O que talvez tenha ofuscado um pouco o brilho dessa inovadora pérola narrativa seja o fato de que ao longo da trama, percebemos que ao contrário de nós, espectadores, Marlowe é um narrador oniciente dos fatos. Isso pode ser percebido a partir de interferências do próprio Marlowe na narrativa da obra, intervenções essas, nas quais ele deixa de ser o observador dos fatos e passa a dirigir-se diretamente ao espectador da obra, direcionando-nos aos fatos seguintes.
As características do gênero noir na obra são inegáveis. A presença dos contrastes, claro e escuro, as locações tanto externas quanto internas, as personagens femininas sempre tão marcantes, expressivas e fundamentais na obra, a trilha sonora pouco presente, porém determinante e o silêncio, igualmente bem utilizado. “A Dama no Lago” nos apresenta a um diretor talvez pouco conhecido, mas totalmente consciente sobre como utilizar bem a câmera a favor de um roteiro, não original, mas igualmente bem desenvolvido.
Salma Nogueira.
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