Repetitivo? Jamais!
Cineastas com muitos anos de carreira tendem a naturalmente transitar entre gêneros e estilos como numa espécie de exercício de variação da assinatura pessoal. Pedro Almodóvar, por exemplo, abandonou há tempos o escracho com o qual caracterizara trabalhos como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios, 1988) e Ata-me! (Espanha, 1989) para concentrar-se em dramas pesados como Carne Trêmula (Espanha, 1997) e Má Educação (La Mala Educación, 2004). De igual modo, Woody Allen em determinado momento já freou o ritmo de suas comédias falastronas para, principalmente nos anos 80, dedicar-se a filmes voltados a uma estética, digamos, “bergmaniana”.
A experiência em ambos os segmentos permitiu a Allen, neste sentido, alternar sua filmografia desta última década entre dramas - por vezes inclinados ao suspense - e comédias despretensiosas. Assim, para cada Melinda e Melinda (EUA, 2004), Match Point (Inglaterra, 2005) ou O Sonho de Cassandra (Cassandra's Dream, 2007) o diretor intercalava um Dirigindo no Escuro (Hollywood Ending, 2002), Scoop – O Grande Furo (EUA, 2006) ou Vicky Cristina Barcelona (EUA, 2008).
Ora acertando em cheio ora exagerando um pouco na dose, Allen tornou inconteste, a quem ainda pudesse duvidar, o domínio gozado sobre o ofício que pratica, dada sua capacidade de permanecer fiel aos formatos por ele construídos sem, contudo, soar repetitivo.
Tudo Pode Dar Certo (EUA, 2009) confirma, dentro deste contexto, a habilidade de Allen em criar novas sacadas e piadas sobre assuntos por ele já tão debatidos, o que lhe confere a invejável capacidade de se manter atual ainda que seu modus operandi seja o mesmo de tempos atrás.
Inteligente e perspicaz como é, Woody Allen reconhece que o público já está deveras acostumado a fundir sua imagem com a dos protagonistas que interpreta, razão pela qual opta por novamente ficar apenas atrás das câmeras, escalando, por conseguinte, para a função de seu alter ego o ator Larry David que, não obstante a missão de servir como elemento visual novo da filmografia de Allen acaba, de modo semelhante, refletindo, através do neurótico personagem Boris, a imagem do cineasta.
Tudo Pode Dar Certo demonstra, portanto, que Allen não necessita de qualquer inovação em seu formato fílmico, eis que suas idéias, seus roteiros são, via de regra, saborosos pelo modo irônico com o qual aborda as neuroses do ser humano, ou seja, independentemente da forma adotada, o elemento do cinema de Allen que mais recebe atenção e que, por isso, mais se destaca é o conteúdo.
Neste diapasão, Tudo Pode Dar Certo é o tipo de produção leve, divertida, mas com muito a dizer, o que, no mínimo, mantém acesa a chama do cinema de autor. Por isso tudo, vida longa e próspera a Woody Allen.
Dario Façanha (texto originalmente publicado em http://www.setimacritica.blogspot.com)
COTAÇÃO - ۞۞۞۞
Ficha Técnica
Título Original: Whatever Works
Direção e Roteiro: Woody Allen
Produtores: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum
Elenco: Evan Rachel Wood (Melodie)Carolyn McCormick (Jessica)Henry Cavill (Randy James)Olek Krupa (Morgenstern)Ed Begley Jr. (John)Michael McKean (Joe)Patricia Clarkson (Marietta), Larry David (Boris Yellnikoff)Patricia Clarkson (Marietta)John Gallagher Jr. (Perry) Carolyn McCormick (Jessica)Christopher Evan Welch (Howard)Jessica Hecht (Helena) Lyle Kanouse (Amigo de Boris)Adam Brooks (Amigo de Boris)
Estreia no Brasil: 30 de Abril de 2010
Duração: 92 minutos
Nenhum comentário:
Postar um comentário