PINA BAUSCH - DOS PALCOS PARA AS TELAS
As duas grandes estrelas do documentário “Pina” (Alemanha, 2011) dispensam maiores comentários. Pina Bausch e Wim Wenders. A coreógrafa e o cineasta. Em 2008, o diretor começou a dar forma ao que seria o primeiro filme de arte/documentário em 3 D juntamente com sua amiga pessoal Pina Bausch que não concluiu a parceria do projeto pois veio a falecer em 2009. Se o foco era mostrar a trajetória de uma vida inteira dedicada à dança pela genial Philippine Bausch e sua Companhia de Dança do Tantztheater Wuppertal, com sua morte, o filme consagra-se como um belo e merecido tributo a uma das maiores referências na dança contemporânea.
O gênero documentário por si só não é unanimidade no gosto do grande público acostumado ao cinema de diversão. Sem ignorar este fato, “Pina” não se prende a rótulos, aliás confunde-se - no melhor sentido - com musical ou com um filme-biografia. Tem a categoria de uma obra de arte por excelência e não só diverte como também emociona. Com todas estas qualidades é cinema puro e simples. Wim Wenders, ousadamente, reafirma a capacidade de renovação do cinema quando traz ao público um filme de arte na tecnologia 3 D e a harmonia entre as linguagens do cinema e da dança.
A bem elaborada montagem funciona num sincronismo tão perfeito e delicado quanto os belos números de dança apresentados transmitindo os efeitos dramáticos e narrativos desejados graças ao virtuosismo dos bailarinos-atores. A exemplo disto, os trechos de filmes com registros da própria Pina Bausch dançando “Café Müller” ou ensaiando a coreografia da “Sagração da Primavera” ao som da música de Igor Stravinsk na abertura do filme. Cada número parece impor a marca da mestra através da sua técnica e radicalismo aplicados na dança e incorporados pelos seus companheiros do Wuppertal. Na performance dos bailarinos temos a impressão que vemos a silhueta da mesma Pina se reproduzindo em cada um deles.
O trabalho de Pina Bausch também teve ampla visibilidade quando Pedro Almodóvar incluiu trechos do espetáculo “Café Müller” no filme “Fale com Ela” (2002). Hoje, não conseguimos imaginar a trama de Almodóvar sem aquelas sequências inesquecíveis.
Quem foi Pina? É a pergunta que Wim Wenders busca responder durante os 103 min de projeção através da expressão corporal e do testemunho de cada bailarino do Wuppertal. A saudade, o amor, a dor, a paixão, a poesia, a ausência e todo sentimento vai surgindo através da dança.
Assistir ao documentário “Pina” em 3 D é uma experiência semelhante a de ver o espetáculo no palco. Na verdade, nas ruas, nas estações de trem, nas montanhas, ou nos locais mais improváveis. De fato, o palco foi trazido às telas. Wim Wenders tentou captar a essência do pensamento de Pina de que “há situações que nos deixam absolutamente sem palavras e tudo que se pode fazer é insinuar, e quando as palavras também não podem fazer mais nada além de evocar as coisas é aí que entra a dança”.
E onde entrou a dança, Wenders continuou com o cinema que ele sabe fazer muito bem. Ele conseguiu mostrar o “anjo da dança” que foi Pina Bausch traduzindo essa idéia em imagens, palavras, movimento, música e grata emoção.
Elias Neves (texto originalmente publicado em http://www.eliasneves.blogspot.com)